BELO HORIZONTE (MG) – Armar a guarda municipal – uma força auxiliar civil de segurança – virou uma febre entre os candidatos a prefeito de Belo Horizonte (MG) e está presente em todos os debates. Oito, dos onze candidatos, defendem colocar armas nas mãos desses agentes. O tema é polêmico. Setores dos direitos humanos são contrários a essa medida. Líder nas pesquisas, com 35% de intenções de voto, o ex-atleta João Leite (PSDB) adotou um discurso duro e repressivo nessa área. Ele diz que a primeira lembrança que tem de seu pai, um ex-policial, é ele colocando a farda e o revólver para ir trabalhar. O candidato tucano é um defensor ferrenho da guarda municipal com arma.
? Defendo 100% a guarda municipal armada. Treinada e capacitada para isso ? diz nos debates e em seus programas.
João Leite busca se descolar da imagem de “defensor de bandido” – por já ter atuado com direitos humanos -, associação que teria comprometido sua votação nas duas derrotas para a Prefeitura, em 2000 e 2004. Ele presidiu a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de 1996 a 2000. Quando questionado sobre o tema, ele conta que também presidiu a Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa – e é atual vice – e que comandou uma CPI que investigou a fuga de Fernandinho Beira-Mar de um presídio de Minas.
? Descobrimos que ele (Beira Mar) pagou R$ 500 mil para fugir, que tinha companhia íntima, celular, sauna e uísque. Indiciei 19 pessoas. E eu defendo bandido?! ? disse o candidato ao GLOBO nesta semana.
O atual vice-prefeito de Belo Horizonte, Délio Malheiros (PSD), também candidato, diz que, dos 2,1 mil guardas municipais, 500 já estão habilitados e, desses, 350 já estão circulando pelas ruas da cidade com armas.
? O objetivo é capacitar todos os 2.100 guardas e até chegarmos a 3 mil ? disse Malheiros.
O Sargento Rodrigues (PDT), outro prefeitável, é também defensor ardoroso da ideia. Ele diz que a guarda municipal ir além de apenas exercer o papel de “zeladoria” do município e colaborar no trabalho ostensivo e a repressão.
? Defendo não só que a guarda seja armada, mas que eleve esse número (2.100) para 3.200. E treinar e capacitar exaustivamente todos eles. A guarda municipal pode muito mais em segurança pública. Hoje, faz esse papel de zeladoria, cuidando de prédios públicos. Está subutilizada ? disse Rodrigues.
Nos debates, outros quatro candidatos – Rodrigo Pacheco (PMDB), Luiz Tibé (PTdoB), Alexandre Kalil (PHS) e Marcelo Álvaro Antônio (PR) – se manifestaram também favoráveis a armar a guarda municipal.
Um dos poucos contrários à proposta, Reginaldo Lopes, do PT, diz que essa medida irá aumentar os homicídios de um segmento da população já vítima das armas de fogo, como pretos e pobres.
? Isso é um retrocesso. É selar de vez o destino de uma parte da população já perseguida e discriminada, que são os pretos e pobres, os mais fragilizados. É institucionalizar o mata-mata na periferia ? disse Reginaldo Lopes.