BUENOS AIRES ? A ex-primeira-dama Nadine Heredia, mulher do ex-presidente do Peru Ollanta Humala (2011-2016), está no centro de um escândalo judicial e diplomático cada vez maior no país que envolve, ainda, o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o brasileiro José Graziano.
Este mês, a ex-primeira-dama, que está sendo investigada pela Justiça por suposta lavagem de dinheiro e deve apresentar-se mensalmente aos tribunais locais, partiu rumo a Genebra para assumir um alto cargo na FAO oferecido por Graziano. Ontem, em meio a tensão entre o Executivo peruano e o organismo internacional ? o chanceler Ricardo Luna pediu à FAO que reconsidere a designação ? promotores pediram a prisão preventiva de Nadine, que está na Suíça e, com o novo cargo, ganhou imunidade no país, a menos que o governo local decida o contrário.
Em Lima, o caso domina o noticiário, e a sensação, segundo analistas peruanos, é de que por trás da nomeação de Nadine esteja o PT, que foi, junto ao chavismo, um dos grandes aliados de Humala na região. Graziano foi ministro de Segurança Alimentar e Combate à Fome no primeiro governo Lula.
A grande incógnita no Peru é se a ex-primeira-dama pretende retornar a Lima, onde a Justiça a investiga. Seus advogados solicitaram autorização para que ela realize os trâmites necessários no consulado em Genebra, o que indicaria sua intenção de permanecer no exterior.
Ontem, a FAO divulgou um comunicado oficial afirmando que ?é preciso esclarecer que a senhora Heredia é apenas objeto de uma investigação? e sequer foi acusada oficialmente, ou alvo de uma condenação, reafirmando a decisão de indicá-la ao Escritório de Relações em Genebra.
? Os privilégios e imunidades se estendem a todos os funcionários de todas as agências da ONU ? explicou a porta-voz da ONU Alessandra Velluci.
RECHAÇO GERAL À NOMEAÇÃO
As denúncias a ela surgiram durante o governo de seu marido e mencionam a suposta lavagem de cerca de US$ 1,5 milhão que teriam sido injetados nas campanhas presidenciais de Humala de 2006 e 2011 pelo governo chavista e por empreiteiras brasileiras, entre elas a Odebrecht. A principal prova em mãos da Justiça é uma agenda de Nadine.
O governo peruano considerou a decisão da FAO ?uma interferência numa investigação judicial?. A Suíça não tem acordo de extradição com o país.
? A questão central na história é a proteção de Graziano, o que interpretamos como proteção do PT aos Humala ? disse Luis Benavente, diretor da consultora Vox Populi.
Para o analista Fernando Tuesta, ?está claro que é uma designação forçada?.
? A ação da FAO foi rechaçada por todos os partidos políticos, pelo Congresso e pelo Executivo ? disse.