RIO ? Quando o artista plástico e cineasta Andy Warhol morreu, há exatos 30 anos, a equipe médica responsável por seu tratamento ? e, consequentemente, a imprensa ? alegou que o americano não teria resistido a uma cirurgia de rotina na vesícula biliar. Agora, três décadas depois, Dr. John Ryan, um historiador médico e e cirurgião aposentado, tenta provar que não foi exatamente isso que aconteceu.
Chefe emérito de cirurgia no Virginia Mason Hospital, em Seattle, Ryan passou os últimos quatro anos de sua aposentadoria cavando o histórico médico de Warhol, que morreu aos 58 anos. E garante, em entrevista recente ao “New York Times“: “Foi uma cirurgia muito crucial ? não de rotina ? em uma pessoa realmente doente”. Links Andy Warhol
E, para Ryan, a morte de Warhol não foi tão surpreendente assim. Em sua pesquisa, ele descobriu que o cirurgião responsável pela operação final do artista estava trabalhando em alguém que sofria com problemas na vesícula há quase 15 anos e tinha um histórico familiar negativo, nesse sentido ? o pai de Warhol removeu a vesícula em 1928, ano em que a figura maior do movimento pop art nasceu.
Por pelo menos um mês antes de sua morte, Warhol esteve doente, mas tentou ao máximo manter as aparências (ou seja, sua rotina cansativa). Avesso a hospitais, ele evitou qualquer tratamento mais sério e, quando finalmente resolveu procurar o cirurgião Bjorn Thorbjarnarson, implorou para ser atendido em casa. Ao “NYT”, o médico, hoje com 95 anos, disse que Warhol prometeu fazê-lo “um homem rico” se ele encontrasse uma alternativa à cirurgia de retirada.
Dr. Thorbjarnarson se recusou a atender aos apelos de Warhol. Três dias depois, quando o artista estava na mesa de operação no New York Hospital, o cirurgião encontrou uma vesícula cheia de gangrena ? o órgão simplesmente se desfez enquanto era removido.
Em sua pesquisa, Dr. Ryan descobriu que Warhol estava desidratado e também faminto, por praticamente não ter comido no mês anterior. Para piorar, o artista ainda sofria por consequência da tentativa de assassinato que sofreu de Valerie Solanas, que o baleou em 1968. Ele chegou a ser declarado morto na sala de emergência e teve nove órgãos danificados.
A recuperação por conta do tiro duraria o resto de sua vida e nunca foi totalmente completa. Ele tinha problemas para comer e engolir, assim como um defeito nos músculos abdominais que lhe deram uma grande hérnia. Com tudo isso, ao remover a vesícula de Warhol em 1987, Thorbjarnarson precisaria reconstruir a parede abdominal do paciente.
À primeira vista, a cirurgia funcionou, e Warhol rapidamente foi levado para o quarto, onde fazia ligações pessoais. Ele ainda aparentava estar bem quando sua enfermeira particular foi checar às 4h da manhã. Mas, duas horas depois, ela o encontrou azulado e sem responder. Os processos de ressuscitação não funcionaram. Segundo a autópsia oficial, “fibrilação ventricular” foi a causa da morte ? ou seja, o coração de Warhol passou por intensa palpitação e parou.