SÃO PAULO. A Polícia Federal identificou dois pagamentos da DAG Construtora – fornecedora da Odebrecht e suspeita de ser uma de suas parceiras para a realização de negócios ilícitos – para duas pessoas ligadas ao ex-presidente Lula: seu advogado Roberto Teixeira e o primo de José Carlos Bumlai, Glaucos da Costamarques, dono do apartamento que o ex-presidente aluga em São Bernardo, no interior de São Paulo.
Teixeira recebeu R$ 219,6 mil e Glaucos outros R$ 800 mil, pagos em dezembro de 2010, pouco antes de Lula deixar a Presidência da República. No documento a PF lembra que os dois são envolvidos na aquisição de um terreno para o Instituto Lula, que acabou sendo rejeitado pela entidade.
?A apuração de responsabilidade criminal de Glaucos da Costamarques e Roberto Teixeira compete a outro núcleo investigativo dentro do grupo de trabalho Operação Lava-Jato, da Polícia Federal?, escreveu o delegado Felipe Pace no relatório divulgado nesta segunda-feira.
O dono da DAG Construtora é Demerval Gusmão, amigo e parceiro de negócios de Marcelo Odebrecht. A Lava-Jato reuniu elementos que mostram que a empresa era porta de saída para ocultar atividades ilícitas da empreiteira, em atuação paralela ao setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, que ficou conhecido como o setor de propinas.
A DAG Construtora foi usada pela empreiteira para bancar despesas de avião do ex-presidente Lula em 2013 e para comprar um prédio oferecido ao Instituto Lula em 2010. A empresa também pagou pelo menos R$ 1,6 milhão ao lobista Fernando Baiano, acusado de ser operador de propinas para dirigentes do PMDB, em 2009 e 2010.
Em nota divulgada nesta segunda-feira, Teixeira sustentou que os valores pagos a ele não estariam relacionados a qualquer atividade ilícita e que seriam referentes a honorários advocatícios recebidos pelo escritório.
?Mais uma vez, dando sequência ao histórico de violações a prerrogativas profissionais e de garantias fundamentais, tenta-se criminalizar atos e procedimentos naturais do exercício da profissão, como assessorar um cliente na compra e venda de bem imóvel. O exercício da advocacia não é crime, ao contrário do que tentam novamente fazer crer alguns agentes públicos?, escreveu Roberto Teixeira na nota.
O advogado afirma que assessorou o vendedor do imóvel comprado pela DAG Construtora, ligada à Odebrecht, por isso teria sido remunerado.
?Houve, nesse interregno, sugestão de aquisição pelo Instituto Cidadania, que viria a ser sucedido pelo Instituto Lula. Porém, após análise, não houve interesse na compra pelo Instituto?, afirmou o advogado. A PF sustenta que a sede seria oferecida a Lula como um presente, já que o gasto consta de planilha com conta de propina devida pela Odebrecht, localizada em e-mail de funcionário da construtora.
Por meio de sua assessoria, a DAG Construtora informou que não vai comentar o assunto. Glaucos da Costamarques não havia sido localizado até o fim da tarde desta segunda-feira.