Cotidiano

Para se manter no cargo, Fábio Cleto teve que assinar carta renúncia

BRASÍLIA – O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, informou nos documentos encaminhados ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), que Fábio Cleto teve que assinar três vias de uma carta de renúncia no mesmo dia de sua nomeação para vice-presidente da Caixa. Os documentos foram endereçados ao então líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN). Tratava-se de uma medida de segurança, caso Cleto não atendesse as demandas de Cunha.

“No mesmo dia em que a nomeação de Fábio CIeto foi publicada no Diário Oficial, Funaro o chamou no escritório por intermédio de Alexandre Margotto. Em frente ao escritório, em um carro estacionado, Margotto apresentou três vias de uma carta de renúncia ao cargo de Vice-Presidente da Caixa, como se tivesse sido escrita por Fábio CIeto, endereçadas a Henrique Eduardo Alves. Margotto informou que Fábio CIeto deveria assinar as cartas sob pena de ser exonerado, tendo este último assim procedido. As três vias da carta, que ficaram com Alexandre Margotto, eram uma espécie de ‘garantia’: caso qualquer solicitação não fosse acatada por Cieto, Funaro apresentaria a carta, levando à renúncia do cargo e à indicação de outra pessoa”, escreveu Janot.

Segundo o procurador-geral, Cleto conheceu Cunha uma semana depois que assumiu a Vice-Presidência de Fundos de Governo e Loterias da Caixa. Eles se reuniram apartamento funcional do deputado, que lhe disse ter grande interesse pelo Fundo de Investimento FI-FGTS. Os recursos do fundo eram usados por empresas privadas para obras de infraestrutura.

“Eduardo Cunha disse expressamente que apresentaria demandas a Cleto, ao qual cabia as analisar e encaminhar de acordo com os interesses do parlamentar. Também ficou estabelecido que o declarante e Eduardo Cunha se reuniriam semanalmente, toda terça-feira, às 7h30min, no apartamento funcional de Cunha. As reuniões ocorreram semanalmente ao longo dos quatro anos em que Fábio Cleto ficou na Caixa”, escreveu Janot.

De acordo com o procurador-geral, Cleto passou a vazar informações sobre projetos em tramitação relacionados ao FI-FGTS. Cunha e Funaro diziam depois qual posição ele deveria adotar nas votações. Segundo Janot, os encontros para tratar de propina eram feitos entre representantes das empresas e Cunha e Funaro. Os contatos de Cleto com as empresas eram “estritamente técnicos e não havia abertura para falar de propina”.