SÃO PAULO – A venda da Estácio Participações, seja para a Kroton ou para a Ser Educacional, vai ser um bom negócio para os acionistas, mas nem tanto para o mercado de educação brasileiro. Os ganhos com sinergias decorrentes do negócio, segundo analistas, são estimados em cerca de R$ 4 bilhões caso a fusão se dê com a Kroton, que é líder do mercado com 1,1 milhão de alunos. E chegam a R$ 2 bilhões se a união for com a Ser Educacional, a terceira do setor, com 150 mil estudantes.
O aumento da concentração no segmento de Ensino Superior, porém, traz dois efeitos indesejáveis, dizem especialistas. O primeiro é uma possível onda de cortes de pessoal, para potencializar a sinergia. Outro é a queda na qualidade de ensino.
– O modelo de negócios da Kroton já é conhecido e passa por redução de custos por meio do corte de pessoal e manutenção de preços ao estudante, para que as margens de lucro cresçam – afirmou André Ramos, professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
A Estácio, que tem hoje 600 mil alunos, emprega 15,5 mil pessoas, sendo 9,9 mil professores. A Kroton tem 45,6 mil empregados dos quais 28,7 mil são docentes. Na Ser, trabalham 10,6 mil, sendo 4,8 mil professores. A fusão de Kroton e Estácio formaria uma instituição com 1,6 milhão de alunos.
Temendo os efeitos dessa concentração, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Rio entrou com denúncia no Cade, órgão de defesa da concorrência, contra a possível fusão de Estácio e Kroton. O consultor Carlos Monteiro, da CM Consultoria, concorda que, para o mercado, o melhor seria a união entre Ser e Estácio:
– Seria mais equilibrado o negócio entre essas duas. Mas, para o acionista, acredito que a união com a Kroton é melhor justamente pelo ganho de eficiência.
Levantamento feito pela CM Consultoria mostra que, caso a Estácio seja incorporada pela Kroton, seria formada uma empresa de R$ 24,9 bilhões em valor de mercado e 1,6 milhão de alunos. Já a combinação de negócios com a Ser resultaria numa empresa com R$ 5,83 bilhões de valor de mercado e cerca de 750 mil alunos.
Romário Davel, da Hoper, acrescenta ainda que, com a grandeza do negócio entre Kroton e Estácio, inevitavelmente, o Cade faria intervenções. Ele lembra que na compra da Anhanguera pela Kroton, o órgão regulador obrigou a gigante vender a Uniasselvi, de ensino a distância, para reduzir a concentração.