VATICANO – O papa Francisco criticou o que chamou de banalização das injúrias neste domingo, falando na Praça de São Pedro, sem aludir diretamente aos taques anônimos que recebeu na última semana.
– Certamente, estas palavras injuriosas não têm a mesma gravidade e culpabilidade do assassinato, mas estão na mesma linha, porque são suas premissas e revelam a mesma malevolência – afirmou, durante a oração dominical do Ângelus, referindo-se ao mandamento de Jesus de “não matarás”.
– Estamos acostumados a insultar, é como dizer ‘bom dia’, mas quem insulta o irmão, mata em seu próprio coração o irmão – acrescentou, incentivando os fiéis a evitarem as ofensas.
Autoridades italianas tentam identificar os responsáveis por uma campanha sem precedentes contra Francisco, lançada em Roma por meio de centenas de cartazes criticando o pontífice.
Os cartazes apareceram durante o fim de semana passado nos muros de vários bairros centrais da capital italiana e neles se vê a imagem de Francisco, com cara de raiva e uma legenda em dialeto romano.
– A France (Francisco), você tutelou congregações, removeu sacerdotes, decapitou a Ordem de Malta e a dos Franciscanos da Imaculada, ignorou cardeais, ma n’do sta la tua misericórdia (onde está a sua misericórdia? – diz o cartaz em tom irônico.
As acusações a Francisco dizem respeito a problemas que ele teve com os setores mais conservadores da Igreja Católica e da Cúria Romana, a poderosa máquina central da Igreja.
Os dizeres citam, entre outros, a guerra travada com a Ordem de Malta e a aposentadoria forçada do ultraconservador Stefano Manelli, de 83 anos, fundador em 1970 da ordem dos Frades Franciscanos da Imaculada.
Também critica o fato de que o Papa “ignora cardeais”, em uma alusão aos quatro cardeais ultraconservadores que pediram publicamente em uma carta datada de setembro que Francisco corrija os “erros doutrinais” de sua encíclica Amoris Laetitia.
A polícia analisa as imagens de câmeras de segurança para tentar determinar os responsáveis pelo ato.
Em um programa de televisão, o cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação dos Bispos, conhecido por suas posições conservadoras, condenou “os métodos anônimos, inspirados pelo diabo, que querem semear a divisão”.
No final de semana, um falso “Osservatore Romano”, o jornal oficial do Vaticano, chegou ao correio de inúmeros cardeais e bispos. Na publicação, o Papa era novamente criticado de forma mais sutil e em tom de sátira.
Os assessores do santo pontífice minimizaram ambos incidentes.
Segundo o jornal “La Stampa”, após ser informado da campanha, o Papa reagiu com “serenidade e indiferença”.