RIO ? Em tempos de mudanças climáticas e aquecimento global, fazer uma boa refeição exige mais responsabilidade do que simplesmente escolher um prato no cardápio de um restaurante. A produção sustentável de alimentos é uma necessidade, e os consumidores exercem papel fundamental nessa mudança.
– O resultado da alimentação dos últimos 50 anos é a obesidade, as doenças, o desequilíbrio e o aquecimento (do planeta) ? disse o renomado chef Alex Atala, do restaurante DOM, no primeiro dia do Wired Festival Brasil, evento que acontece nesta sexta e sábado no Armazém Utopia, na Zona Portuária do Rio. ? Como homem e cozinheiro, eu não acredito que esse será o futuro da alimentação.
Apontado como um dos melhores chefs do mundo pelo ?Guia Michelin?, Atala acredita que o homem se desconectou do alimento. ?Poucas pessoas no mundo reconhecem um pé de laranja sem fruta?, criticou. Segundo ele, é preciso ressignificar o termo ?sustentabilidade?.
– As companhias tomam atitudes sustentáveis como a gente vai ao dentista ? disse Atala. ? Alimentação é prazer. Ter um restaurante sustentável precisa ser tão sexy quanto ter três estrelas.
E esse movimento, na opinião do chef, precisa partir do consumidor. É ele quem precisa criar a demanda ou deixar de comprar produtos não-sustentáveis. Não vai ser a grande indústria que vai alterar sua produção.
– O que seria a cozinha do futuro? Eu acredito na ética. Só tenho que perdir para as pessoas cozinharem, comprarem e comerem de acordo com a própria ética ? recomendou. ? A grande empresa de alimentação é atenta e esperta para ouvir o mercado.
E é nesse mercado que Alexandre Borges, diretor executivo da Mãe Terra, vem apostando desde que assumiu a companhia, há nove anos. O seu objetivo, disse, é ?democratizar os orgânicos?, mas existem barreiras a serem superadas.
E assim como Atala, ele acredita que o primeiro grande desafio seja a ressignificação dos alimentos integrais e orgânicos. No senso comum, os produtos de alimentação saudável estão relacionados com dietas proibitivas, restrições, e não ao sabor e ao prazer.
– Existia um preconceito contra o produto saudável. Ele era feio, ruim. O primeiro desafio é tornar algo ligado à privação em uma coisa bacana, descolada ? afirmou Borges.
O preço é outro problema. Por não ter a escala da grande indústria, muitas vezes os produtos orgânicos não conseguem alcançar um preço competitivo. Segundo Borges, a solução encontrada na Mãe Terra foi iniciar os projetos de desenvolvimento de produtos pelo preço final na gôndola. Se ele for muito elevado, o produto fica no papel.
Outra solução encontrada foi verticalizar a produção. Na compra de farinha de trigo, por exemplo, é impossível concorrer no preço com as grandes indústrias. Por isso, a empresa decidiu investir na produção própria de farinha. Além disso, foi preciso construir uma cadeia de fornecedores.
– Hoje, nós somos os maiores compradores de produtos orgânicos do país ? disse Borges. ? Nós contratamos agrônomos e fomos para o campo desenvolver os fornecedores, oferecendo apoio e contratos de longo prazo. É preciso fazer um planejamento com eles.
O Wired Festival Brasil é uma realização da Edições Globo Condé Nast e do jornal O GLOBO, apresentado pela Prefeitura do Rio e Rio Eventos, com patrocínio da Nextel e do Banco Original, apoio do Senai, C&A e Spotify, co curadoria da FLAGCX e produção da SRCOM. O evento acontece nesta sexta-feira e sábado no Armazém Utopia, na Zona Portuária do Rio.