Cotidiano

Novo longa de Ugo Giorgetti é metáfora para um país desgovernado

unes_-_filmagens_3.jpgSÃO PAULO ? Ugo Giorgetti vai logo avisando: seu novo filme, ?Uma noite em sampa?, que estreia amanhã, foi feito pensando nos medos que paralisam as pessoas, resultado de uma realidade movida a insegurança com relação ao próximo. Com um elenco numeroso e egresso principalmente do teatro, a produção do cineasta paulista, conhecido por longas como ?Festa? (1994), ?Sábado? (1998) e ?O príncipe? (2002), acompanha um grupo que sai do teatro à noite e dá de cara com o ônibus que os levaria de volta para casa trancado e sem motorista.

? Agora, os filmes são organismos vivos ? diz Giorgetti, em sua produtora, no bairro de Vila Beatriz, Zona Oeste de São Paulo. ? Hoje, este filme também pode ser lido assim: o Brasil é um ônibus sem ninguém para guiar.

Do elenco fazem parte 18 atores, incluindo nomes como Flávia Garrafa, Chris Couto, Suzana Alves (a Tiazinha) e Roney Facchini, além da participação especial de Otávio Augusto, amigo do cineasta e presença frequente em seus filmes. Também está no longa o que o diretor chama nos textos de divulgação de ?grupo adicional de atores introvertidos?, na verdade manequins vestidos com figurinos com os quais os outros contracenam.

Trailer Uma Noite em Sampa

? Nunca chamei de manequins, em nenhum momento, nem na sinopse e nem nos materiais de divulgação ? diz ele. ? São atores que se mantêm calados e passivos, como uma grande parte dessa gente que está ali representada.

DOIS ANOS À ESPERA

A situação vivida pelo grupo escala para uma paranoia generalizada, que envolve até quem não faz parte daquela seleção oriunda de uma elite supostamente bem-educada e ilustrada. Jovens que estão na região, um morador que passeia com o cachorro e outros personagens que passam por ali a trabalho são vistos com desconfiança.

? O morador passa com o cachorro e se desconfia dele ? explica Giorgetti. ? Os lixeiros passam e simplesmente não são vistos. Eles são invisíveis para essas pessoas.

Rodado em apenas dez dias, em julho de 2013, com uma verba de R$ 1,1 milhão, o filme ficou no computador do cineasta por dois anos, até que surgiu uma verba para finalizá-lo:

? O sistema brasileiro é de fila. Fiquei esperando todo esse tempo, com o filme gravado e editado na memória da máquina. Achei que ia ser rápido, mas acabou demorando.