NOVA YORK – Enquanto investidores ainda avaliam os impactos do Brexit sobre a economia global, o jornal americano Wall Street Journal tem uma recomendação a seus leitores: na dúvida sobre que moeda comprar, tente o real. Segundo levantamento do diário de finanças, a divisa brasileira foi a que mais se valorizou frente ao dólar desde o anúncio da saída do Reino Unido da União Europeia, que mexeu com os mercados no mundo todo. A alta foi de 4%, mais que tradicionais portos seguros, como o franco suíço e o iene japonês, que se valorizaram 2%, cada um, frente à moeda americana. Os motivos para o desempenho do real incluem os altos juros praticados no Brasil e a expectativa de desaceleração da inflação, dois fatores positivos.
O artigo do WSJ, publicado nesta quinta-feira, destaca que não é que, de repente, investidores tenham encontrado um porto seguro no politicamente instável Brasil. Segundo o periódico, parte do que está sendo observado no país está em linha com uma tendência global de fortalecimento de divisas de países emergentes, algo que parecia improvável logo após a confirmação do Brexit. A expectativa de analistas era que a turbulência global gerasse uma aversão generalizada ao risco e, com isso, uma fuga de capitais de mercados como o Brasil. O fator EUA, no entanto, pesou mais forte.
Com as incertezas em relação ao crescimento global, a expectativa de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) deve adiar a alta de juros ganhou força no mercado financeiro. Juros altos nos EUA, considerado o país mais seguro para investir, tendem a atrair mais dinheiro para a maior economia do mundo. O inverso acabou abrindo o apetite para outros mercados, principalmente os que remuneram com juros altos. Hoje, a taxa básica de juros brasileira está em elevados 14,25% ao ano. A previsão de uma inflação mais moderada neste ano 7,29%, segundo o boletim Focus, contra 10,67% no ano passado também ajuda.
O texto destaca ainda que o real tem espaço para subir, já que se desvalorizou muito frente ao dólar no ano passado. Parte da força do real pode ser creditada à sua recente fraqueza. A moeda perdeu metade de seu valor desde 2011, quando comparada ao dólar, e atingiu a mínima histórica em janeiro. Então, tem espaço para ganhar, continua o artigo.
Por fim, as expectativas em relação à crise política também influenciam. O recente rally mostra como investidores acreditam que, uma vez que o atual regime político for colocado de lado, o potencial da economia brasileira será liberado. A questão é se um país cuja elite política está envolvida em escândalos de corrupção pode entregar tais promessas, afirma o jornal americano.