RIO – Viajar para fora do país, andar de metrô e caminhar pelas ruas sem ser reconhecido é um exercício frequente de alguns atores brasileiros. Não mais o de Murilo Benício. Dono de um currículo com novelas que viraram sucessos internacionais ? ?O clone? (2002) e ?Avenida Brasil? (2012) estão no topo da lista ?, o ator não passa despercebido nas principais metrópoles do mundo. No Brasil, no entanto, o público estava há mais de um ano sem vê-lo nas telas (o último papel foi em ?Geração Brasil?, em 2014). O jejum foi quebrado recentemente, com a estreia de ?Nada será como antes? com o artista no papel principal.
? Neste ano, eu percebi que as pessoas realmente têm saudade de me ver na TV. Fiquei esse período fora e muita gente me perguntava. Isso é muito gostoso. Foi bom sair um pouco para ter esse termômetro. Antes, eu estava o tempo inteiro fazendo alguma coisa e não podia perceber esse carinho ? relata o artista, que, no ano passado, chegou a ser cotado para o elenco de ?A regra do jogo?.
Como o Saulo de ?Nada será com antes?, é ele quem dita as regras. O personagem é o dono da primeira emissora televisiva do país, responsável por convocar Verônica (Débora Falabella) para o papel de protagonista da novela fictícia ?Ana Karenina?. A obra marca o primeiro encontro do casal da vida real como par romântico.
? Eu falei que só voltaria a trabalhar se fosse com ela ? brinca.
Enquanto se ausentava da TV, o niteroiense dirigia o filme ?O beijo no asfalto?, inspirado na obra de Nelson Rodrigues, que também tem Débora no elenco. Tanto a minissérie, que vai ao ar às terças-feiras, quanto o longa, com previsão de estreia para 2017, trazem novas experiências em sua carreira.
? Agora, prefiro escolher um projeto que me ofereça alguma diferença. Às vezes, priorizo estar numa obra que seja menos vista, mas que represente um andar a mais. É melhor do que repetir uma coisa que já fiz, que tem uma receita de sucesso… O ator tem que alimentar a alma, ir para o novo. Senão, a gente fica estagnado e pode perder a vontade de estar na profissão. É importante se mexer um pouco para entender o que nos inspira. Tenho que estar atento ao que me move ? explica ele, aos 44 anos.
?O beijo no asfalto? se estabeleceu como um desafio para Benício. Tanto é que, acostumado a atuar, ao chegar no set, ele logo se encaminhava para o camarim dos atores, em vez de se posicionar atrás das câmeras.
? Walter Carvalho (fotógrafo e cineasta) foi quem me alertou que eu fazia isso! ? diverte-se o ator, que investiu dinheiro do seu próprio bolso na empreitada por paixão pela arte: ? Esse filme é um ?low budget? (expressão para filmes de baixo orçamento). Fiz com R$ 1 milhão, os atores receberam um cachê simbólico, todo mundo estava a fim de rodar… Esse tipo de coisa é feita com alegria.
Satisfazer-se na profissão e na vida pessoal são escolhas diárias na rotina do artista. Tanto é que, sempre que pode, ele une os dois na companhia da amada.
? Nas horas vagas, nós adoramos ver teatro para conhecer gente nova. Agora que estou dirigindo também, eu sempre fico em dúvida ao montar um elenco, e ela me ajuda.
Nas horas livres, Benício, que também investe em criação de gado, e a família desfrutam da natureza no sítio do ator em Secretário, na Região Serrana do Rio de Janeiro.
? Lá a gente descansa. É o nosso mundo protegido ? conta a atriz.
O clima de paz que os dois encontram no sítio está longe da atmosfera de guerra de seus personagens na fase atual da série. Em ?Nada será como antes?, Saulo ouviu da amada que ela está grávida de outro homem. Brigar na ficção, tudo bem. Mas Débora conta que os dois nunca levaram um desentendimento para o set:
? Por mais que tenha algum problema acontecendo, na hora que a gente vai para a cena, tem que estar tudo ok. Eu não lembro de algum dia ter havido algum desconforto. Até porque a gente não é de brigar.
A vida harmônica reflete na família. Pai de Pietro Antonelli, de 11 anos, e de Antônio Negrini, de 19, (frutos de suas relações com Giovanna Antonelli e Alessandra Negrini), Benício já vê um dos herdeiros seguindo seus passos:
? O mais velho quer dirigir cinema. Eu só tenho medo de não ser uma coisa autêntica. Tenho receio de que eles sigam porque os pais foram bem-sucedidos. E essa não é a realidade da profissão. É como se o filho de um jogador de futebol quisesse jogar porque o pai joga. O universo é muito mais complicado.