RIO – As ruas do Rio estão ficando pequenas para o Monobloco. E não só porque a multidão que acompanha o desfile tem aumentado ano a ano (em 2016, meio milhão de pessoas estiveram no cortejo). Neste carnaval, os rapazes levam o bloco para mais uma capital: depois de São Paulo, que recebeu o desfile no ano passado e repete a dose no dia 19, é a vez de Belo Horizonte, que vai ouvir o som dos cariocas na Terça-Feira Gorda. Mas essa expansão territorial não deve ser confundida com um amor de carnaval ? intenso, mas passageiro. Em cada uma dessas cidades, eles implantam uma oficina de percussão, formam a bateria inteira e, só então, tomam as ruas.
? Não queremos ser apenas um bloco que vai tocar em outra cidade. A proposta do Monobloco sempre foi pedagógica, formando batuqueiros ? explica o maestro Celso Alvim.
Atualmente, as três cidades têm suas próprias baterias, que fazem intercâmbio entre si. E as peculiaridades já começam a aparecer. Em São Paulo, impressionaram a seriedade e a aplicação dos alunos nas aulas. Em Belo Horizonte, o primeiro passo foi quebrar a cultura local dos músicos que tocam em diversos blocos sem compromisso com ensaios e o repertório.
? O ponto em comum é o movimento da batucada, que existe no mundo todo. Através da capoeira, as pessoas conhecem a música e aprendem letras em português. Vemos isso nos Estados Unidos, na Europa. São grupos organizados. Em 2010 estivemos no aniversário de 30 anos da Associação das Escolas de Samba de Tóquio. Fizemos oficinas de percussão e um desfile. Eles ficaram alucinados ? conta Alvim.
O delírio visto do outro lado do mundo é comum por aqui. No domingo pós-carnaval, novamente o Monobloco toma as ruas do Rio, no encerramento não oficial da folia. A festa acontecerá na Rua Primeiro de Março, no Centro, local considerado apertado pelos organizadores. O novo presidente da Riotur, Marcelo Alves, ao assumir o cargo, em janeiro, afirmou que gostaria de transferir os grandes blocos para a Avenida Presidente Vargas. A ideia, que não vingou, era vista com bons olhos por Pedro Luís, voz mais famosa do Monobloco:
? Nossa preocupação é a segurança, porque na Primeiro de Março o espaço é estreito. A Presidente Vargas é uma via com 16 pistas, dá mais tranquilidade.
Além do calor humano, o público pode ter outra certeza: eles vão cantar marchinhas, mesmo as que foram envolvidas na primeira polêmica deste carnaval. Canções como ?Maria sapatão? e ?Cabeleira do Zezé? foram banidas de alguns blocos por serem consideradas preconceituosas. Pedro Luís e sua turma discordam:
? Acho importante que as pessoas se posicionem. Se alguns blocos não se sentem à vontade, têm o direito de não cantar. No nosso caso, encaramos a questão com a tradição de humor e leveza que o carnaval sempre teve. A gente não pode desprezar a herança cultural riquíssima que as marchinhas nos trazem. Vale até para refletir sobre essas questões: olha, a música diz isso com humor, mas como prática não serve ? diz Pedro Luís, que festeja os 20 anos de seu primeiro disco com A Parede, ?Astronauta tupy?.