Cotidiano

Microempreendedores viram a página e trocam informalidade por bons negócios

Lincoln trocou o trabalho como vigilante pela venda de ovos e produtos coloniais nos bairros de Cascavel

Microempreendedores viram a página e trocam informalidade por bons negócios

Cascavel – “Está passando o carro do Lincoln!” Os moradores de seis bairros da região oeste de Cascavel já se acostumaram com a frase ecoando pelo bairro por meio de uma caixa de som sobre o veículo do microempreendedor Lincoln Antonio dos Santos. Em questão de segundos, começam a surgir os clientes, alertados principalmente pelas crianças. Você deve estar se perguntando: qual a relação das crianças nesse contexto? Acontece que o fundo da mensagem é composto por uma música do Patati Patata.

“As crianças correm atrás do meu carro dançando e alertando os pais sobre o carro com ovos”, comenta Lincoln. “Precisei adotar esse diferencial, pois havia outra pessoa, com o mesmo modelo do meu carro, circulando pelos bairros vendendo ovos e se passando pelo meu empreendimento”, conta.

A ideia de virar Microempreendedor Individual há 4 anos, surgiu da necessidade de atender aos critérios da Vigilância Sanitária e também pela condição de pagar metade do INSS, em comparação com outro regime. Ele trabalha com a venda de ovos comuns, que obtém de uma granja em Pato Branco. Além disso, para ajudar no orçamento, comercializa linguiça colonial, banha de porco e torresmo. Ele percorre semanalmente os bairros Alto Alegre, Coqueiral, Tropical, Cancelli, Parque Verde e Canadá.

Antes de vender ovos, Lincoln, que é natural de Curitiba, trabalhava como vigilante. Hoje, a venda de ovos e demais produtos que realizam por intermédio de um veículo Fiesta são sua única fonte de renda. Ele é casado e não tem filhos. Por semana, chega a vender entre 30 a 40 caixas com 30 dúzias cada. Para garantir a venda, chega a percorrer até 30 quilômetros por dia pelas ruas dos bairros.

Independência e flexibilidade

A pejotização é um fenômeno sem volta no Brasil. Os mais recentes dados apresentados em nível nacional mostram uma verticalização do modelo nos últimos anos, intensificada após o período de estagnação atribuído à pandemia da Covid-19. Ao grosso modo, há mais vantagens do que desvantagens na adesão ao modelo.

Independência, flexibilidade de aumento nos ganhos, ampliando o leque de serviços e a continuidade do recolhimento do INSS em regime diferenciado, são apenas algumas das vantagens de ser MEI (Micro Empreendedor Individual) no Brasil. Além disso, o colaborador garante economia para a empresa para qual presta serviço e o melhor, consolida a manutenção do emprego.

Esse fenômeno transforma as relações de trabalho entre empresa e trabalhador para somente pessoas jurídicas. Dados mais recentes apurados com o Ministério da Economia revelam uma realidade exponencial dos MEIs. Ao todo, já são 14 milhões em todo país, representando ao menos 70% das empresas em atividades. Nos últimos cinco anos, o número de microempresas praticamente dobrou no Paraná. É o que mostra o levantamento mais atualizado do Dieese-PR (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Conforme a apuração, os MEIs correspondem a 14% da população ocupada no Estado e 61% trabalham por conta própria.

Grande salto

Apesar da desaceleração do crescimento em 2018, a partir de 2019 o índice voltou a assumir uma escala maior. De 2017 a 2022, o número de microempreendedores individuais saltou de 447.227 para 899.514. Os números alçam o Paraná para a quarta colocação em números absolutos de quantidade de MEIs registradas.

Dos 14 milhões de MEIs registrados no Brasil, 3,8 milhões estão em São Paulo; 1,6 milhão no Rio de Janeiro; 1,5 milhão em Minas Gerais; perto de 900 mil no Paraná e 865 mil no Rio Grande do Sul. Todas essas unidades da federação representam 62% das microempresas individuais do País.

Mais da metade das MEIs no Estado era concentrada em 15 cidades, com destaque para Curitiba (21,21%); Londrina (5,04%); Maringá (4,43%); São José dos Pinhais (3,39%) e Ponta Grossa (3,12%). Comparando o aumento dos dados de maio de 2021 com o mesmo período de 2022, a expansão do modelo em Cascavel, por exemplo, chegou a 19,27% e Toledo, com 18,85%. No Paraná, o crescimento nesse período chegou a 16,76%.

Ainda com relação ao Paraná, 25 atividades concentram 59,5% dos MEIs. As principais são construção civil; cabeleireiros, pedicure e manicure; comércio varejista de artigos de vestuário e acessórios; promoção de vendas; serviços domésticos; lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares; atividade de estética e demais serviços. (Por Vandré Dubiela)

Foto: Vandré Dubiela/ O Paraná