Cotidiano

Maior acervo individual de fotografia do país ganha exposição no MAM

RIO ? No fim dos anos 1970, Joaquim Paiva era um jovem diplomata, servindo em Caracas, na Venezuela, quando adquiriu algumas fotografias do brasileiro Miguel Rio Branco. No mesmo ano, 1978, ele comprou duas fotografias da americana Diane Arbus (1923-1971). Não existia mercado de arte no Brasil, tampouco, aqui, valorização da fotografia como arte. Ele só se deu conta de que estava colecionando quando, no início da década de 1980, já com umas 140 obras brigando por espaço em sua casa, o paulistano Carlos Fadon Vicente enviou as fotos que Paiva havia comprado dele com uma carta, onde dizia: ?Joaquim, você é louco. Colecionar fotografia? Como pode??.

As palavras, citadas de memória, talvez não tenham sido exatamente essas. Mas a ?loucura? ampliou-se para uma coleção que reúne, hoje, 3.100 obras, de 450 fotógrafos brasileiros e do exterior. Cerca de dois terços (1.963) delas estão no Museu de Arte Moderna, em regime de comodato. Para marcar os dez anos dessa parceria, o museu abre neste sábado ao público, às 15h, a exposição ?Coleção Joaquim Paiva?, com algo em torno de 200 imagens dessa que é a maior coleção de fotografia individual privada do país.

OBRAS VARIADAS

2016 914410334-ansel adams_29543_300dpi_36cm_cmyk_13.jpg_20160606.jpgEm 38 anos, os pioneiros Rio Branco e Diane ganharam a companhia de nomes como Ansel Adams (1902-1984), Martín Chambí (1891-1973), Grete Stern (1904-1999), Pierre Verger (1902-1996), Marcel Gautherot (1910-1996), Sebastião Salgado e Claudia Andujar. Todos eles estão com exemplares na mostra, que, segundo os curadores Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes, tem a preocupação de, ao mesmo tempo em que exibe nomes estrelados, apresentar obras de artistas pouco vistos.

? Estou querendo mostrar o acervo, mas enfatizando obras de artistas importantes nas diversas áreas. Assim como temos (Jackson) Pollock na pintura, temos Diane Arbus e Ansel Adams na fotografia ? diz Cocchiarale, que optou, na montagem, por uma combinação de critérios: algumas imagens acabam sendo um núcleo, atraindo, em torno de si, outras que ?fechem uma leitura?.

É assim que uma grande fotografia do americano A. Leo Nash, da fachada luminosa de um prédio, aproxima outras fotos em que a luz marca presença, como a de um índio ianomâmi no interior de uma oca banhada pela luminosidade do sol, de Claudia Andujar.

? Algo que nos interessou bastante foi mostrar como a coleção é importante para pensar a fotografia num sentido mais amplo ? diz Fernanda Lopes. ? Há fotojornalistas, que trabalham com a ideia de documentação e registro, artistas plásticos que usam diferentes técnicas, fotografia com colagem e apropriação fotográfica. É um conjunto muito vasto, e a exposição reflete isso.

Fernanda cita, por exemplo, as artistas Rochelle Costi e Regina de Paula, ambas com obras expostas. A primeira está presente com uma série de cartões-postais, ou seja, imagens que não são suas, em que interfere com adesivos que dialogam com o fundo.

? Já Regina usa imagens impressas numa superfície transparente, como folhas de acetato, presas por alfinetes na parede. A incidência da luz ambiente cria uma sombra na parede que é incorporada à foto, como uma imagem em 3D ? diz Fernanda.

A PORÇÃO FOTÓGRAFO

Joaquim Paiva diz que nunca se guiou por uma linha de trabalho. Para que uma obra faça parte de sua coleção é necessário que lhe agrade, evidentemente, mas de uma forma bem específica:

? O que me atrai numa obra é perceber o grau de envolvimento do fotógrafo com ela; é perceber que a fotografia é indispensável para aquele autor ? diz o colecionador, ele mesmo fotógrafo, com uma exposição inaugurando na próxima terça-feira, na Maison Européenne de la Photographie, em Paris.

O colecionador é um dos quatro nomes com individual no evento ?Une saison brésilienne?, ao lado do alagoano Celso Brandão, do francês Marcel Gautherot e do paulista Vik Muniz. Paiva vai exibir imagens da sua série ?Foto na hora: lembrança de Brasília?, trabalho que começou a realizar quando se mudou para a capital, aos 24 anos, e reunido num livro editado em 2013 na Cidade do México. Ele se orgulha de ser um olhar original sobre a cidade, ?sem a arquitetura, sem a vida política e sem ser em preto e branco?.

? Nunca trabalhei profissionalmente com fotografia, mas ela sempre foi um meio de expressão importante em minha vida ? diz ele.

SERVIÇO

?Coleção Joaquim Paiva?

Onde: Museu de Arte Moderna ? Av. Infante Dom Henrique, 85, Parque do Flamengo (3883-5600).

Quando: Abertura dia 11, às 15h. Ter. a sex., das 12h às 18h; sáb., dom. e feriados, das 11h às 18h. Até 14/8.

Quanto: R$ 14.

Classificação: Livre.