KIEV ? Um conhecido jornalista pró-ocidental e crítico do Kremlin morreu nesta quarta-feira na explosão de uma bomba colocada no veículo que dirigia no centro de Kiev, a capital da Ucrânia.
Pavel Sheremet, nascido em na Bielorrússia, mas de nacionalidade russa, vivia há cinco anos na Ucrânia, onde trabalhava para o influente meio de comunicação Ukrainska Pravda e apresentava um programa matinal na rádio Vesti.
Segundo relatos, Sheremet demitiu-se de uma TV russa e mudou-se para Kiev devido a pressões do Kremlin. As autoridades russas acusam a mídia ucraniana de distorcer notícias sobre o Leste da Ucrânia, onde rebeldes pró-Moscou combatem as forças de Kiev.
O jornalista, de 44 anos, conhecido por sua independência, dirigia para a emissora de rádio quando o carro explodiu. O veículo pertencia a um de seus colegas, que não estava a bordo no momento do incidente.
? Dirigia pela rua Ivan-Franko e parou em um cruzamento quando a explosão ocorreu. As chamas atingiram o segundo andar dos edifícios ao redor ? relatou à AFP Petro, um taxista que não quis dar seu sobrenome.
? Fomos em direção ao carro e abrimos a porta. Estava caído no chão e gemia. Parecia que tinha quebrado a perna ? acrescentou, dizendo que Sheremet ainda estava vivo quando a equipe de socorro chegou, embora tenha morrido mais tarde devido aos ferimentos sofridos.
No Twitter, presidente ucraniano, Petro Poroshenko, afirmou que a morte de Pavel Sheremet é uma tragédia terrível e disse que os culpados serão punidos.
?Era meu amigo íntimo. Simpatizo com sua família e amigos?, acrescentou.
A polícia ucraniana anunciou durante a tarde a abertura de uma investigação por assassinato premeditado, enquanto o ministro do Interior, Arsene Avakov, considerou que o assassinato buscava desestabilizar o país.
?Um artefato explosivo improvisado, talvez controlado à distância ou por um retardador, explodiu. Segundo a investigação preliminar, ele equivaleria a entre 400 e 600 gramas de TNT?, disse no Facebook um conselheiro do ministro ucraniano do Interior, Zoryan Shkirya, ressaltando que todos os cenários são estudados.
ATAQUE RECORRENTE A JORNALISTAS
O Ukrainska Pravda, um meio de comunicação independente, foi criado no fim dos anos 1990. Seu fundador, Gueorgui Gongadzé, foi sequestrado em setembro de 2000 e seu corpo decapitado foi encontrado dois meses depois em uma floresta a uma centena de quilômetros de Kiev. Sua cabeça foi achada nove meses depois e o jornalista acabou se convertendo em um símbolo da liberdade de imprensa na Ucrânia. Jornalista bielorusso morre em explosão em Kiev
A redatora-chefe do Ukrainska Pravda, Sevguil Musaieva-Borovik, declarou à AFP que a morte de Pavel Sheremet ocorreu devido às suas atividades profissionais?.
?Por que assassinam jornalistas na Ucrânia? Alguém quer desestabilizar a situação do país ao fazer isso?, acrescentou.
Outros jornalistas já foram assassinados no país no passado. O Kremlin expressou sua grave preocupação por este assassinato de um cidadão russo.
? Esperamos uma investigação imparcial ? declarou à imprensa o porta-voz do governo russo ? Dmitri Peskov.
Por sua vez, a Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) lamentou em um comunicado a perda de um jornalista de destaque e dedicado.
A Ucrânia enfrenta um conflito no Leste separatista que deixou quase 9.500 mortos em mais de dois anos após os protestos do Maidan, que provocaram em fevereiro de 2014 a fuga do presidente pró-russo Viktor Yanukovich, substituído por um governo pró-ocidental.