O Refúgio Biológico Bela Vista de Itaipu, que está comemorando 35 anos de criação nessa quinta-feira (27), apresentou ao público mais um resultado do trabalho que desenvolve na área de faunas: duas onças-pintadas nascidas em cativeiro. Os filhotes, que nasceram no começo de junho, são uma fêmea, que é melânica (quase preta) como a mãe, Nena, e um macho, pintado como o pai, Valente. Eles são irmãos de Cacau, que nasceu em 2016.
A chegada dos novos integrantes da família de onças (Panthera onca) vai permitir que a equipe desenvolva um programa de repovoamento da espécie, no bioma da Bacia do Rio Paraná. “Por enquanto, estamos nos dedicando à reprodução em cativeiro, para formação de um banco genético vivo que nos permita, depois, fazer a reinserção desses animais na natureza”, informou o diretor de Coordenação de Itaipu, Luiz Felipe Carbonell. “Esse é o futuro”, afirmou.
O veterinário do Refúgio, Zalmir Cubas, explicou que essa reinserção será um trabalho que envolverá várias instituições. “Para ter início, precisamos de boas matrizes, então esses novos indivíduos podem se tornar reprodutores para que possamos fazer a reintrodução das espécies nascidas em cativeiro”, disse.
Cacau e irmãos
O destino de Cacau, a irmã mais velha, é a reserva paraguaia de Itaipu, para conviver com um macho e evitar, assim, que a reprodução aconteça entre indivíduos consanguíneos. Ela vai para o Paraguai na mesma época em que os filhotes serão levados para as áreas abertas, dentro de três meses. “Eles serão expostos ao público e, então, lançaremos uma campanha para a escolha dos nomes, assim como fizemos com a Cacau.”
Os filhotes nasceram no dia 1º de junho (a fêmea) e no dia 2 de junho (o macho). Segundo a avaliação visual dos veterinários, ambos estão saudáveis e bem-nutridos. O macho pesa 3,640 kg e a fêmea, 3,280 kg, e ambos receberam microchips que serão suas “identidades” durante toda a vida. “Faremos também coleta de sangue e fezes, para os exames clínicos complementares”, explicou Cubas.
Segundo ele, os filhotes ainda devem ficar em ambiente protegido, com a mãe, durante o período de aleitamento. Daqui a alguns meses, serão apresentados ao público em geral, que poderá visitá-los no recinto das onças no Refúgio Bela Vista. “Eles devem ficar com a gente por cerca de dois anos, que é um período em que ainda são dependentes da mãe. Depois, a perspectiva é que sejam enviados para uma outra instituição”.
Trabalho bem-feito
O nascimento desses novos filhotes é uma mostra do trabalho que vem sendo realizado há anos pela equipe do Refúgio, e que foi muito elogiado pelos diretores e autoridades presentes à comemoração do aniversário.
“O que vemos aqui, no Refúgio Bela Vista, desde a sua criação, é uma melhora crescente em todos os aspectos”, afirmou o diretor-geral brasileiro da Itaipu, general Joaquim Silva e Luna. “Nosso apoio a esse trabalho vai continuar e aumentar. Aqueles que nos sucederem receberão esse local ainda melhor – quem sabe, com ainda mais oncinhas para celebrar”, completou.
Carbonell se disse emocionado por ter como primeiro evento público, desde a nomeação dele como diretor, no último dia 12 de junho, do aniversário do Refúgio Bela Vista. “O que temos aqui é resultado de anos de trabalho e esforço, não é invenção de um dia”, reforçou.
Além do diretor-geral brasileiro, do diretor de Coordenação e do diretor financeiro executivo da Itaipu, Anatalício Risden, participaram da comemoração representantes da prefeitura de Foz do Iguaçu; da Secretaria Municipal de Meio Ambiente; da Universidade da Integração Latino-Americana (Unila); da 5ª Companhia de Polícia Ambiental Força Verde; da Polícia Federal de Foz do Iguaçu; da Capitania Fluvial do Rio Paraná – Marinha do Brasil; do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), entre outros.
Alunos dos colégios estaduais Professora Carmelita de Souza Dias, Flávio Warken e Paulo Freire e da Força Verde Mirim, todos participantes do projeto “Amigos do Refúgio”, também estiveram na cerimônia, que incluiu o tradicional “Parabéns a você” e um bolo com a imagem do Refúgio.
Após os discursos do diretor-geral brasileiro e do diretor de Coordenação, os convidados assistiram a um vídeo de Clayton Lino, presidente do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, feito especialmente em comemoração aos 35 anos do RBV. Em seguida, o superintendente de Gestão Ambiental da Itaipu, Ariel Scheffer da Silva, fez uma apresentação sobre o Refúgio Biológico Bela Vista – sua visão e missão.
Histórico
A primeira onça-pintada a chegar ao RBV foi Juma, em 2002, capturada na região do Parque Nacional do Iguaçu. Ela ganhou um companheiro em 2007, o Tonhão, vindo do Zoológico do Município de Ilha Solteira. Foram feitas várias tentativas de aproximação entre eles para que gerassem filhotes, mas não houve sucesso. Tonhão morreu em 2014, aos 19 anos. Juma morreu com 24 anos, em 2016.
Em 2007 chegou ao RBV a onça-pintada Valente, filhote encontrado abandonado numa fazenda na divisa entre Mato Grosso do Sul e São Paulo.
O casal
Em 2016, chega a onça-pintada melânica Nena, aos três anos de idade, vinda de uma fazenda no Mato Grosso do Sul, na divisa com Goiás. Ela foi doada pelo Criadouro Científico Instituto Onça-Pintada (GO).
Em setembro de 2016 aconteceram os primeiros encontros entre Nena e Valente. Três meses depois, em 28 de dezembro de 2016, nasceu a onça-pintada melânica Cacau. Foi o primeiro caso de sucesso de reprodução de onças no RBV em 14 anos de tentativas.
Onça-pintada
A onça-pintada (Panthera onca) é um felino da família Feliade. É carnívoro, chega aos 2,10 metros de comprimento, pesa em média 150 kg e sua altura chega a 90 centímetros. A onça-pintada vive às margens dos rios e também nos ambientes campestres desde o sul dos EUA até a Argentina.
A gestação das onças-pintadas dura cerca de 100 dias, com possibilidade de nascimento de até quatro filhotes. Os bebês nascem cegos e passam a enxergar depois de duas semanas de vida. Para garantir a integridade das onças, mãe e filhotes ocupam espaço diferente do macho, que não desenvolve instintos para cuidar dos filhotes e pode machucá-los.
35 anos do RBV
Em outubro de 1982, quando o reservatório da usina estava começando a encher, a Itaipu promoveu a Operação Mymba Kuera (“Pega-bicho”, em guarani), para resgatar os animais das áreas que seriam inundadas. Na época, mais de 13 mil foram salvos. Eles foram acolhidos num espaço de mais de 2 mil hectares criado especialmente para isso, na margem brasileira da usina.
Quase dois anos mais tarde, em 27.6.1984, esse local passou a se chamar oficialmente Refúgio Biológico Bela Vista (RBV). O RBV completará 35 anos nesta quinta-feira (27.6.2019).
Desde o seu surgimento, o RBV foi muito além de acolher espécimes da fauna local, transformando-se em um importante centro de conservação da biodiversidade, pesquisa, educação ambiental e turismo ecológico.
Harpias
Historicamente, foram registrados mais de 1.000 nascimentos de 42 espécies no RBV. Um bom exemplo desse trabalho é a reprodução da harpia, uma das maiores aves de rapina do mundo. Ameaçada de extinção, a ave está no brasão do Estado do Paraná.
O programa de reprodução de harpias em cativeiro da Itaipu é o mais bem-sucedido do mundo. No RBV nasceram 47 harpias. No total, o plantel de Itaipu é formado hoje por 35 harpias, sendo 25 filhotes nascidos no local. Muitas aves foram doadas para várias instituições parceiras.
Outras espécies raras também são reproduzidas no RBV, com destaque para a jaguatirica, a anta, o veado-bororó, o mutum-de-penacho e a onça-pintada. A taxa de sobrevivência é uma das mais altas do mundo.
O Zoológico Roberto Ribas Lange, localizado no RBV, expõe ao público visitante, por meio de trilhas interpretativas e recintos bem projetados, amostras representativas da fauna brasileira, entre mamíferos, aves, répteis e anfíbios.
Atualmente, o Zoológico tem 32 recintos e abriga uma população de 172 animais de 50 espécies, sendo 47 répteis e anfíbios, 65 aves e 60 mamíferos. Os animais do Zoo são provenientes do próprio criadouro de animais silvestres da Itaipu, de outros zoológicos ou foram destinados pelos órgãos ambientais.
O RBV conta com um dos melhores hospitais veterinários do País, que atende animais de outros zoológicos ou vítimas do tráfico.
Também são produzidas no RBV mudas florestais de mais de cem espécies, que depois são utilizadas para recuperação de matas ciliares na Bacia do Paraná 3 (BP3).
O RBV integra a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (RBMA), a maior do mundo e, por desenvolver as três funções básicas da Reserva nos campos da proteção da biodiversidade, do desenvolvimento sustentável e do conhecimento científico e tradicional sobre a Mata Atlântica, foi agraciado em 2018 como um Posto Avançado da RBMA, elemento que agrega ainda mais valor ao RBV como vitrine de importantes ações de conservação e educação ambiental.