RIO ? A Igreja Católica Australiana pagou US$ 213 milhões para vítimas de casos de abuso sexual ocorridos desde 1980. A verba foi dividida entre milhares de pessoas, com valor médio de US$ 70 mil.
As investigações estão sendo conduzidas pela Comissão Real para Respostas Institucionais a Abuso Sexual de Crianças, que também deve averiguar casos de assédio em organizações não-religiosas.
O pagamento foi destinado a 3.066 dos 4.445 casos de abuso sexual de crianças reportados por investigações entre 1980 e 2015. Os recursos serviram para compensação, tratamento e custos legais das vítimas, entre outras desespesas.
? A comissão real sabe que muitos sobreviventes enfrentam barreiras que os impedem de relatar abusos às autoridades e denunciarem a instituição em que o abuso ocorreu ? disse a advogada Gail Furness, que acompanha os trabalhos do comitê. ? Assim, o número total de incidentes de abuso sexual de crianças em instituições da Igreja Católica na Austrália pode ser muito maior do que as alegações já realizadas.
Segundo Furness, a demora média entre um suposto abuso e o seu relato é de 33 anos.
No início deste mês, a comissão ouviu 7% dos padres católicos australianos que supostamente abusaram de crianças entre 1950 e 2010.
Sobrevivente de casos de abuso sexual cometidos entre seus 7 e 14 anos de idade por quatro homens ? dois professores, um padre e outro devoto da Igreja ?, Andrew Collins afirmou que suas denúncias não foram ouvidas.
? Eu tentei dizer para minha mãe uma vez e ela disse que isso era um absurdo e que um homem de Deus nunca faria tal coisa ? contou.
A comissão já ouviu testemunhos angustiantes de dezenas de pessoas que sofreram abusos nas mãos do clero. Uma vítima disse que ele foi abusado sexualmente em uma sala de aula por seu professor católico, que mandou que outros alunos desviassem o olhar. Em outro caso, o inquérito ouviu alegações de que um sacerdote ameaçava uma menina com uma faca e fazia crianças se ajoelharem entre as pernas.
No ano passado, o cardeal católico australiano George Pell reconheceu que a Igreja havia cometido ?enormes erros? e escolhas ?catastróficas?, recusando-se a acreditar em crianças abusadas, arrastando sacerdotes que cometeram abusos de paróquia para paróquia e dependendo excessivamente do aconselhamento destes religiosos para resolver o problema.