Cotidiano

Grande Barreira da Austrália tem morte recorde de corais

AUSTRALIA-ENVIRONMENT

CAMBERRA ? O aquecimento dos oceanos levou à pior cifra de corais mortos já registrada na Grande Barreira de Coral da Austrália, afirmaram cientistas nesta terça-feira.

A zona mais afetada é uma faixa de 700 quilômetros ao norte da cadeia de recifes, que se estende em 2,3 mil quilômetros na costa nordeste da Austrália e é considerada Patrimônio da Humanidade, segundo indicou o Centro de Excelência para Estudos do Recife de Coral, pertencente ao Conselho de Investigação da Austrália.

O centro, que tem a sua sede na Universidade James Cook, iniciou análises submarinas em outubro e novembro. A investigação mostrou que a faixa norte de Port Douglas havia perdido 67% dos corais de água poucas profundas nos nove meses anteriores.

Mais ao Sul, nas vastas regiões que compreendem a maior parte do recife, os cientistas encontraram uma taxa de mortes muito menor.

? A mortalidade que encontramos ao longo da Grande Barreira de Coral é incrivelmente díspare. Há danos muito graves na zona norte do recife. As boas notícias são que, ao sul de Port Douglas, incluindo as prinicipais zonas turísticas em torno de Cairns e as ilhas Whitsundays, houve níveis de mortalidade relativamente baixos ? disse à imprensa o diretor do centro, Terry Hughes.

A cifra perdida de corais de 2016 foi ?consideravelmente pior? que o recorde histórico até então, em 1998, segundo indicou o pesquisador Andrew Baird.

? A proporção de recifes que foram gravemente afetados foi muito, muito maior ? disse Baird, acrescentando que ainda não tinha números disponíveis para divulgar, em um primeiro momento.

FUGINDO DO ?PERIGO?

Os governos da Austrália e de Queensland informaram nesta semana ao Centro de Patrimônio da Humanidade da UNESCO sobre os progressos na proteção do recife, incluindo uma resposta sobre o branqueamento dos corais, como é conhecido o fenômeno a morte destas espécies devido ao aumento da temperatura da água.

Proporcionar este tipo de informação atualizada ao comitê foi uma condição dentro da decisão de junho de 2015 para não classificar o recife como ?em perigo?.

O ministro do Meio Ambiente e Energia, Josh Frydenberg, disse nesta terça-feira que a cobertura de corais havia aumentado 19% nos últimos anos, antes de sofrer um ?processo significativo de branqueamento? neste ano, causado pelas mudanças climáticas e pelo fenômeno metereológico do El Niño.

?O que demonstra que a Grande Barreira de Coral é bastante resiliente e forte?, indicou um comunicado da pasta de Frydenberg.

Mas, segundo sinalizou Hughes, é provável que a taxa de coral morto na zona norte torne muito mais difícil a tarefa de manter o recife fora da lista de pontos em perigo.

? Em seu diálogo aberto com a UNESCO, a Austrália disse que os valores universais do recife estão intactos devido a parte norte que estaria intocada. Sinceramente, este já não é mais o caso ? criticou o diretor do centro de pesquisa.

VIZINHO INDESEJADO

Os pesquisadores estimam que a região norte da barreira precisará de 10 a 15 anos para recuperar o que foi perdido. Mas a possibilidade de outro episódio de branqueamento pode interromper esta recuperação.

Graeme Kelleher, que dirigiu por 16 anos da Autoridade do Parque Marino Grande Barreira de Coral, disse na semana passada que os australianos não devem aceitar a ?mentira política? de que podem manter os recifes ao mesmo tempo que há a exploração com grandes minas de carvão na região.

? Perdemos 50% da cobertura de coral na Grande Barreira nos últimos 30 anos e a principal causa disto é a queima de combustíveis fósseis. Espero sinceramente que a UNESCO rechace a afirmação de que o governo esteja fazendo o suficiente ? alertou Kelleher.