“Sou da cidade de Arnhem, tenho 34 anos e viajo pelo mundo há 21. Estou passando um tempo no Rio, mas não tenho raízes em lugar algum. Vivo quase como um nômade. Sou completamente apaixonado pela minha mulher e pelo meu trabalho, e estou aberto a novos encontros.”
Conte algo que não sei.
Quando eu cheguei aqui, assisti a muitas peças de teatro e não entendia nem falava uma palavra de português. Queria observar. Estou sempre observando. Gosto de sentar num bar, ver as pessoas passando, reparar na forma como elas caminham na vida.
O que você concluiu das suas observações?
O corpo tem uma energia muito forte, que toca mais do que a palavra. Quando você fez a primeira pergunta, eu me estressei, fechei o corpo, fiquei nervoso. Depois, relaxei. O corpo comunica.
Como você definiria o “clown”, o palhaço?
O clown é um espelho do público, joga com a emoção da plateia. O diretor de “Bianco su Bianco” (o suíço Daniele Finzi Pasca) costuma dizer que os clowns não são bobos, como podem parecer. São como heróis perdedores, porque eles tentam muito, perdem muito, não relaxam. A cada furo na vida, ou no palco, estão sempre se doando ao público.
Há diferença entre o “clown” e o palhaço?
O clown não usa roupa, peruca, nariz ou maquiagem de palhaço. Não há muita diferença entre o personagem do clown e o ator. Ele vive ele mesmo, procura os seus pontos frágeis, os seus pontos fortes e os potencializa. Daqui a cinco anos, o meu clown vai ter uma forma completamente diferente, porque vai refletir o meu momento.
Você já se apresentou em diversas cidades do mundo. Qual foi a plateia mais curiosa até agora?
A de Taiwan. Passei dois meses lá, para um festival. Foi quando conheci a minha mulher (a atriz brasileira Helena Bittencourt). Se as pessoas aqui riem de uma coisa, as de lá riem do oposto. É muito engraçado. Não riem para fora, têm o riso contido. Não mostram os dentes, os escondem com as mãos. Você vê mais o movimento no público, o balanço dos ombros.
A arte de rua tem a mesma recepção aqui e lá fora?
Ah, aqui tem o calor, não é? As pessoas são mais calorosas e interagem mais. Na Europa, faz frio, então, a arte de rua acontece mais em festivais, como na “Feast of Fools” (Festa dos Tolos), que reúne artistas do mundo todo. Ano passado, ocorreu em Belfast, na Irlanda.
O que o faz rir no Rio?
O coração das pessoas. Depois dos espetáculos, gente que não me conhece me dá um abraço com muito carinho. Isso é lindo e me faz muito bem. Na Holanda, as pessoas são mais fechadas e reservadas. Vocês falam tocando, acho incrível. E a música daqui é incrível. Adoro samba. Pena que não consegui aprender a sambar (risos).
E em que você não acha graça nenhuma?
Acho a desigualdade social difícil. Há muita diferença entre as pessoas que têm muito e as que têm muito pouco. Isso me faz mal. Seria melhor que houvesse um equilíbrio maior entre todos.
Você já testemunhou o poder que a arte tem de transformar a vida das pessoas?
Várias vezes. Na Holanda, uma vez fui com um amigo visitar uma criança muito doente. Ficamos uma hora nos apresentando para ela. A reação de felicidade dela é uma lembrança muito forte. Acho que as emoções têm essa capacidade de curar as pessoas.