RIO ? Afastados da Eletronuclear por uma comissão independente contratada para apurar irregularidades, dois superintendentes da empresa montaram um quartel-general na Logos Engenharia, que mantém um contrato de R$ 100,5 milhões com a própria Eletronuclear. A força-tarefa da Operação Lava-Jato no Rio fez um alerta para o que chamou de ?relação de promiscuidade? entre os superintendentes e a empresa privada.
Os superintendentes Luiz Messias (de Gerenciamento de Empreendimentos) e José Eduardo Costa Mattos (de Construção) já estavam afastados do cargo quando foram presos na Operação Pripyat, da PF, juntamente com o ex-presidente da Eletronuclear Othon Silva e mais três diretores. Os procuradores federais investigam um esquema de pagamento de propinas ao alto escalão da Eletronuclear, no âmbito das obras da usina nuclear Angra 3.
CONTRATO DE 2015
O contrato da Logos com a Eletronuclear foi assinado em novembro de 2015, para apoio técnico na área de engenharia civil de Angra 3. O gerente deste contrato na Logos era Roberto Luiz Bortolotto, que foi secretário municipal de Infraestrutura Urbana e Obras em São Paulo, na gestão de Marta Suplicy, e diretor de infraestrutura do Ministério do Turismo nos governos Lula e Dilma Rousseff.
Bortolotto foi alvo de mandados de condução coercitiva e de busca e apreensão na mesma Operação Pripyat. ?A existência desta relação de promiscuidade negocial entre a Eletronuclear e a empresa Logos Engenharia também evidenciou-se diante da relação próxima de Luiz Messias e de Costa Mattos com Roberto Luiz Bortolotto, gerente do contrato celebrado com a estatal?, afirma o Ministério Público Federal do Rio no requerimento enviado ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, em que pediu a prisão preventiva dos dois superintendentes.
Em uma conversa antes de seu afastamento, interceptada em 6 de abril de 2016, Messias ligou para sua secretária na Eletronuclear para avisar que estaria com Bortolotto na Logos. Para os procuradores, isso evidencia que, no período em que estava no alto escalão da Eletronuclear, o superintendente já frequentava o escritório da Logos.
De acordo com a Lava-Jato, os dois superintendentes, mesmo depois de afastados pela comissão independente, continuaram mantendo contatos com funcionários da Eletronuclear para influenciar em suas atividades. As investigações dos procuradores apontam evidências de que Costa Mattos, antes de seu afastamento, havia determinado a formatação de informações contidas em computadores da Eletronuclear.
?É afirmado que Costa Mattos teria dado ordem de não passar nenhuma resposta adiante sem ele ?fazer um filtro?. Para a realização deste ?pentefino?, ele afirma que montaria um QG na Logos junto com Luiz Messias, para onde todas as respostas deveriam ser mandadas. Salienta-se que, no período, Costa Mattos já se encontrava afastado de suas atividades na Eletronuclear e, portanto, não poderia exercer atividades inerentes ao seu antigo cargo, nem ter acesso a documentos da estatal?, afirmam os procuradores em documento enviado à Justiça.
A assessoria da Eletronuclear informou que não está se manifestando sobre a operação da PF. O GLOBO não localizou os advogados de Costa Mattos e Messias. A Arcadis, que comprou a Logos Engenharia, afirmou que ?nunca foi montado nenhum tipo de QG na Logos, e nenhum tipo de abrigo foi concedido ao pessoal afastado da Eletronuclear?.
A assessoria da empresa disse ainda que Bortolotto esclareceu à PF que a relação dele com os superintendentes afastados era puramente técnica e no âmbito do contrato.
A Operação Pripyat investiga o esquema de pagamento de vantagens indevidas envolvendo a empreiteira Andrade Gutierrez, que recebeu R$ 1,2 bilhão da Eletronuclear pelas obras em Angra 3. O total de propina chegaria a R$ 48 milhões.