BOGOTÁ Harry González, Sebastián Echeverry e Eduardo Bejarano têm pelo menos duas coisas em comum: seus pais morreram nas mãos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e mesmo assim promovem o “sim” no plebiscito que procura aprovar o acordo de paz entre o governo colombiano e a guerrilha.
Echeverry tinha 4 anos quando seu pai, um deputado do departamento de Valle del Cauca, foi sequestrado pela guerriha em 2002. Os cinco anos subsequentes da sua infância transcorreram entre manifestações e provas da sobrevivência de seu pai, até que chegou a notícia: Ramiro Echeverry havia sido assassinado junto a outros dez deputados da região, em um feito que foi classificado há alguns dias como “absurdo” e “vergonhoso” pela própria guerrilha.
Foi uma infância totalmente diferente, estranha, da qual não lembro de muitas cores, passeios ou amigos. Só de marchas intermináveis e gravações de palavras minhas dizendo coisas ao meu pai. Era assim que nos comunicávamos para obter as provas de sobrevivência contou Echeverry, estudante universitário de 19 anos.
Em um momento, o jovem prometeu vingar a morte de seu pai, mas converteu a sua dor em perdão e agora promove o “sim” na campanha para o plebiscito, que acontece no próximo 2 de outubro.
O “sim” no plebiscito é porque eu descobri que, quando você perdoa e não olha para o passado, vira essa página, você se dá conta de que é uma pessoa melhor e é capaz de construir disse o jovem. Que não haja mais vítimas.
Echeverry participou do registro do movimento “Óbvio que sim”, em Bogotá, em que ativistas pela paz e vítimas do conflito armado se uniram pela aprovação do acordo. Ali conheceu outros que, como ele, perderam seus pais para a violência das Farc, como Harry González, copresidente da Comissão de Paz da Câmara de Representantes do Congresso, e Eduardo Bejarano, filho do ex-conselheiro de paz Jesús Antonio Bejarano.
Com bandeiras brancas com o “sim” e a palavra “perdão” em suas falas, pediram aos colombianos para irem às urnas para acabarem com o conflito de mais de meio século, em que também participaram outros grupos guerrilheiros, paramilitares e agentes do Estado, deixando um saldo de mais de 220 mil mortos, 45 mil desaparecidos e 6,9 millhões de deslocados.
O perdão é algo muito pessoal de cada vítima, é da intimidade dela, e por isso deve-se encontrar outras motivações. No meu caso, encontrei uma grande motivação, que é lutar para que não haja mais vítimas do conflito armado na Colômbia disse González, cujo pai foi assassinado pelas Farc em 1996.
Este homem de 38 anos contou que seu pai, Jesús Ángel González, era governador de Caquetá (Sul) quando as Farc o mataram em uma campanha “contra a dirigência do Partido Liberal” na região, em que foram assassinados conselheiros e deputados.
O caso de Eduardo Bejarano, de 44 anos, é parecido. Em 1999, a guerrilha matou seu pai, um catedrático de esquerda, com um tiro na testa. Ele havia sido conselheiro da paz no governo de César Gaviria (1990-1994).
Não se perdoa pelas Farc, não exerço o perdão para que eles se livrem da culpa. Eu os perdoo porque é necessário para mim, para o meu crescimento espiritual disse Bejarano. Ainda chegará o momento em que as Farc vão dizer ao país a verdade sobre muitos mortos.
Antes do plebiscito, governo e guerrilha irão assinar o acordo de paz neste 26 de setembro, em um grande ato em Cartagena (Norte).