LONDRES ? A escolha do polêmico ex-prefeito de Londres e líder da campanha pró-Brexit, Boris Johnson, para o cargo de ministro das Relações Exteriores do Reino Unido teve reações negativas dentro e fora do país. Enquanto o chanceler francês, Jean-Marc Ayrault, chamou Johnson nesta quinta-feira um ?mentiroso que está pressionado contra a parede?, o líder liberal-democrata britânico Tim Farron cobrou do ex-prefeito desculpas por seus comentários controversos.
O ex-prefeito foi nomeado na quarta-feira pela nova primeira-ministra britânica, Theresa May. Bem-sucedido na campanha para os britânicos romperem com a União Europeia (UE) no referendo do mês passado, Johnson desistiu da chance de concorrer pela sucessão de David Cameron como premier, que renunciou depois de defender sem sucesso a permanência do país na UE.
Na França, um país-membro fundador da UE, ele é visto como uma peça fundamental da separação e do revés que esta representa para a integração europeia.
? Não estou nem um pouco preocupado com Boris Johnson, mas… durante a campanha ele mentiu muito para o povo britânico, e agora é ele quem está com as costas na parede ? disse Ayrault à rádio Europe 1.
Johnson não será o responsável pelas negociações sobre o divórcio com a UE. May nomeou David Davis, ex-líder do Partido Conservador e pró-Brexit, para assumir um ministerial especial para esse fim.
Mesmo assim, Ayrault, geralmente moderado em seus comentários, emitiu um alerta contundente para o novo representante de política externa de seu vizinho próximo.
? (Ele está) pressionado contra a parede para defender seu país, mas também contra a parede no relacionamento com a Europa que precisa ser claro ? disse Ayrault. ? Eu preciso de um parceiro com quem eu possa negociar e que seja claro, crível e confiável. Não podemos deixar essa situação ambígua e incerta se arrastar, no interesse dos próprios britânicos.
A França e outros parceiros da UE exortaram o Reino Unido a iniciar rapidamente o processo de saída do bloco para que o período de conversas de dois anos sobre os termos comerciais e outros laços possa começar. May indicou que não pretende fazê-lo este ano.
A decisão de colocar Johnson no palco para lidar com líderes estrangeiros levantou questões, em grande parte também devido à sua propensão de dizer a coisa errada na hora errada, às vezes de forma vulgar.
O líder disse que não podia acreditar que Johnson iria agora representar o Reino Unido no exterior. Ele disse que Johnson deve primeiro pedir desculpas ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, por se referir à sua ascendência ?metade-queniana? e, em seguida, pedir desculpas aos líderes da UE por dizer que seus planos para a Europa eram semelhantes aos de Hitler.
Quando Johnson voltou para sua casa em Londres, após a nomeação, um vizinho tinha colocado uma placa lado da casa do ex-prefeito dizendo: ?sinto muito mundo?.