Cotidiano

Encontro de galáxias deixa buraco negro ?nu?

RIO ? Astrônomos encontraram o que parece ser um raro caso de um buraco negro supermaciço praticamente ?nu?. Segundo eles, o objeto ocupava o centro de uma galáxia num aglomerado a mais de 2 bilhões de anos-luz de distância da Terra que atravessou parte de uma galáxia maior, perdendo no caminho quase todas as estrelas e material que o circundavam e emergindo do outro lado a uma velocidade de mais de 7,2 milhões km/h. Após o encontro, o que sobrou da galáxia menor foi um disco irregular com um diâmetro de apenas 3 mil anos-luz. A título de comparação, nossa galáxia, a Via Láctea, tem um diâmetro estimado em cerca de 100 mil anos-luz.

A descoberta faz parte justamente de um projeto de busca por buracos negros supermaciços, com massas de milhões a bilhões de vezes a do Sol, que não estão no centro de galáxias. Isso porque estes objetos são normalmente encontrados exatamente no meio dos núcleos de quase todas as galáxias, resultado do crescimento de grandes galáxias a partir da absorção de vizinhas menores. Em tais casos, os buracos negros no centro das duas galáxias em geral também acabam eventualmente se fundindo.

– Estamos buscando pares de buracos negros supermaciços em que um esteja deslocado do centro da galáxia, uma indicação de uma fusão de galáxias anterior ? conta James Condon, pesquisador do Observatório Nacional de Radioastronomia dos EUA (NRAO, na sigla em inglês) e um dos responsáveis pela descoberta, relatada em artigo publicado na última edição do periódico científico ?Astrophysical Journal?. – No lugar disto, encontramos este buraco negro fugindo da galáxia maior e deixando uma trilha de destroços atrás dele. Nunca tínhamos visto uma coisa assim.

O buraco negro ?nu? foi encontrado com o radiotelescópio americano VLBA ? na verdade um conjunto de dez antenas de 25 metros de diâmetro espalhadas do Havaí à ilha de St. Croix, no Caribe, que atuando em conjunto conseguem obter uma resolução (capacidade de separação de dois objetos aparentemente muito próximos de nosso ponto de vista) equivalente a um gigantesco radiotelescópio com o diâmetro da maior distância entre as antenas.

Usando esta enorme resolução do VLBA, os astrônomos começaram então um estudo detalhado de mais de 1,2 mil galáxias anteriormente identificadas como ?suspeitas? de abrigarem buracos negros supermaciços em seu interior em amplos levantamentos anteriores do Universo feitos com telescópios infravermelhos e radiotelescópios menores. E as observações do VLBA mostraram que, de fato, quase todas tinham um buraco negro supermaciço bem no seu núcleo.

Um destes buracos negros, no entanto, não se encaixava neste padrão. Designado B3 1715+425, ele estava cercado por uma galáxia muito menor e de brilho bem mais tênue do que o esperado. Além disso, o objeto estava se afastando a alta velocidade do núcleo de outra galáxia muito maior, deixando um rastro de gás no caminho. Isto levou os cientistas a concluírem que o B3 1715+425 é o que restou de uma galáxia que atravessou a maior e teve a maior parte de suas estrelas e gás ?roubada?, ou seja, um buraco negro supermaciço ?quase nu?. Este remanescente da galáxia menor também provavelmente vai continuar a perder massa e parar de formar novas estrelas.

– Em mais ou menos 1 bilhão de anos, ela (a galáxia menor) provavelmente será invisível ? diz Condon, acrescentando que isso pode significar que muitos objetos do tipo estejam viajando ?soltos? pelo Universo como resultado de outros antigos encontros galácticos, e invisíveis aos astrônomos.

Isto, no entanto, não vai impedir os cientistas de continuarem a procurar por eles. Em outro projeto de longo prazo com o VLBA que usa o tempo ?ocioso? do radiotelescópio, como quando as posições das antenas estão sendo ajustadas para outras observações, eles esperam identificar mais objetos como o B3 1715+425.

– Ou talvez até alguns dos buracos negros supermaciços binários que originalmente buscávamos ? conclui Condon.