Cotidiano

Empresários começam a rever estratégias de investimentos no Reino Unido

LONDRES – De Paris a Tóquio, os dirigentes empresariais reagiram com consternação ao resultado do plebiscito, que definiu a saída do Reino Unido da União Europeia. Alguns já advertiram que a decisão vai frear a atividade econômica e diminuirá os investimentos no país.

Enquanto a libra e as ações despencam nesta sexta-feira, as companhias de setores como turismo, publicidade e automobilística, que estão fortemente expostas às oscilações de moedas estrangeiras, disseram que reavaliariam suas estratégias.

A vitória do “sair” poderia frear toda a economia, desde as vendas de automóveis até o gasto em publicidade e o turismo nas praias do Mediterrâneo, levando as empresas a retirar investimentos e rever os níveis de emprego em todo o Reino Unido. Antes da votação, a maior parte dos dirigentes corporativos que se pronunciaram sobre o tema expressaram apoio à permanência na União Europeia.

“É um resultado em que ambos perdem – Reino Unido e Europa”, disse Thomas Enders, CEO da Airbus Group SE, que fabrica asas para seus aviões no Reino Unido. “Revisaremos nossa estratégia de iinvestimento no Reino Unido, como farão todos”.

O resultado do referendo fez cair or preços das ações em toda a Europa. O fabricante de automóveis Renault perdeu 20% e a companhia telefônica espanhola Telefônica, que vem negociando a venda da sua unidade no Reino Unido, caiu 19%. A Telefônica analisa adiar os planos para ofertas públicas iniciais (IPOs) de duas unidades, incluindo a operadora de telefonia móvel O2 no Reino Unido, de acordo com fontes próximas à empresa.

As empresas mais afetadas no Reino Unido foram cadeias menores, como o comerciante de artigos eletrônicos Dixons Carphone, a livraria WH Smith Plc, o vendedor de vestidos Next Plc e a Associated British Foods Plc, dona da loja de varejo Primark. As ações de todas essas companhias cairam mais de 30%.

Gastos com publicidade, que reagem rapidamente às oscilações econômicas, podem enfrentar entre um e três anos de uma situação “montanha russa” na Europa, disse Maurice Levy, CEO da Publicis Groupe SA, que tem sede na França. Isso pode levar a empresa a repensar seus planos de investimento no Reino Unido, acrescentou.

“Nós poderíamos ter criado alguns centros no Reino Unido”, disse ele. “Agora é impensável. O mercado de publicidade certamente irá sofrer”.

A marca suíça de relógio H. Moser & Cie, que tem três lojas no Reino Unido, responsável por 5% do seu faturamento total, está considerando reduzir despesas com publicidade no país, disse o CEO Edouard Meylans.

“Nós não queremos entrar em pânico e acho que vai se estabilizar, mas se a libra continuar a cair e permanecer assim, talvez nós devêssemos cortar a publicidade no Reino Unido”, disse ele.

Para os turistas britânicos, as passagens aéreas vão ficar ainda mais caras nos feriados, disse Kenny Jacobs, da Ryanair. O Brexit poderia mudar a dinâmica das viagens aéreas, enquanto os passageiros em rotas transatlânticas podem escolher Dublin em vez de Londres como um ponto de entrada para a Europa, disse na Bloomberg Television.