FORTALEZA – Se em eleições passadas os candidatos a prefeito faziam de tudo para obter material de propaganda com a imagem do presidente da República ou de políticos conhecidos nacionalmente, a forte onda de rechaço à política tradicional derivada da Lava-Jato e do impeachment criou um fenômeno que tem chamado atenção nesta eleição municipal de Fortaleza: a ausência de padrinhos nas campanhas. Os principais candidatos na disputa têm evitado exibir os caciques nacionais e, neste cenário, nem mesmo o presidente da República, Michel Temer, é bem-vindo.
No penúltimo debate entre os candidatos antes do pleito neste domingo, a presença de caciques também foi tema de discussão. Quarto e quinto colocados na disputa, Heitor Férrer (PSB) e Ronaldo Martins (PRB) fizeram uma dobradinha para atacar os principais concorrentes, criticando o apadrinhamento por políticos de influência nacional. O constrangimento ficou claro, por vezes no silêncio, por vezes nas respostas evasivas dos demais candidatos.
Segundo nome com maior percentual de intenção de voto, de acordo com o Datafolha, o deputado estadual Capitão Wagner (PR) é apoiado pelos senadores Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Tasso Jereissati (PSDB-CE), que repetem em Fortaleza a aliança partidária nacional de sustentação ao governo Temer. Mas, o candidato fez questão de dizer no debate que não tem padrinhos políticos e, durante a campanha, não exibiu seus apoiadores em nenhum dos programas de televisão gravados até o momento, nem no material gráfico, ou mesmo pessoalmente durante eventos de divulgação de sua candidatura.
Mas a maior preocupação de Capitão Wagner é a vinculação de seu nome ao do presidente Michel Temer, o que ele acredita que pode lhe prejudicar fatalmente nesta eleição. Circula na cidade material produzido por seus adversários com uma edição de seu slogan ?A capital está com o Capitão?, em que a foto de Temer foi colocada ao lado da sua. Ele lamenta a montagem:
? Não tenho padrinho, tenho aliado. Nunca tive um grande político colocando a mão na minha cabeça. Vamos precisar do governo Temer para obter recursos para administrar e pretendo usar a influência do Eunício e do Tasso para obter esses recursos. Mas minha candidatura se diferencia pela independência ? afirmou ao GLOBO.
O prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, também conta com aliados de peso no cenário nacional, mas que tampouco têm participado de sua campanha de forma direta. São os irmãos, ambos ex-governadores do Ceará e ex-ministros, Ciro e Cid Gomes. Eles não gravaram um programa de televisão sequer para a campanha e pouco têm ido a Fortaleza. Cid Gomes está investindo nas campanhas pelo interior do estado e Ciro aproveita para viajar o país para dar capilaridade à sua possível candidatura à presidência da República em 2018.
Roberto Cláudio nega que esteja ?fugindo? dos irmãos Ferreira Gomes e diz que eles têm um papel importante de consultoria interna. O prefeito justifica que, em sua primeira campanha, a presença dos dois políticos foi mais constante porque ele ainda era um desconhecido. Como agora vai para a reeleição, não vê sentido em usar a imagem dos Ferreira Gomes.
? Aqui o debate é local, é sobre quem pode fazer mais para a população de Fortaleza. Não estamos tratando de eleição para deputado federal ou senador. Não adianta querer nacionalizar ? diz.
CANDIDATA DO PT CRITICA
A tentativa de nacionalizar a campanha em Fortaleza, de fato, não levou a resultados positivos para a terceira colocada na disputa, a deputada federal Luizianne Lins (PT). No início da campanha, Luizianne trouxe de Brasília para Fortaleza o discurso do ?golpe?, acusando os adversários que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff e, há duas semanas, recebeu o ex-presidente Lula para um comício na capital cearense. Mas, seu desempenho eleitoral, segundo as pesquisas Ibope e Datafolha, não tem melhorado.
Nos tempos pré-Lava-Jato, a situação era bastante distinta. Na eleição de 2012, em que Luizianne tentou fazer de Elmano Freitas seu sucessor à prefeitura de Fortaleza, a presença de Lula na propaganda para a televisão era uma constante. A imagem do ex-presidente, então ainda forte apenas dois anos após eleger Dilma Rousseff pela primeira vez, ajudou a levar Elmano para o segundo turno da eleição. Mas, Elmano acabou derrotado por Roberto Cláudio, que também recorreu fortemente, naquela eleição, aos padrinhos políticos nacionais para se eleger. Luizianne critica seus adversários por esconderem seus padrinhos políticos:
? O que o Capitão Wagner faz, escondendo os padrinhos, é uma covardia com o eleitor. O Tasso e o Eunício são dois líderes políticos e empresários de partidos que, no Ceará, não têm tido muita aceitação. No caso do Roberto Cláudio, o Cid e o Ciro não ajudam muito em Fortaleza, porque eles são coronéis e a cidade ficou escaldada com essa oligarquia. Os eleitores deles estão sendo privados de saber quem está por trás das demais candidaturas. NO meu caso, não tenho padrinho político. O que tenho é uma referência política e partidária no ex-presidente Lula ? afirma.