BRASÍLIA ? O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse nesta sexta-feira que a corrupção não pode ser enfrentada ?com arroubos retóricos?. Ele saiu em defesa do Ministério Público ao afirmar que, atualmente, a corrupção tem sido combatida com investigação séria e técnica jurídica. Na terça-feira, Gilmar Mendes, também do STF, criticou os procuradores da Lava-Jato ao dizer que eles deveriam ?calçar as sandálias da humildade?. Gilmar também insinuou que o Ministério Público vazou a delação da OAS para prejudicar o tribunal, porque a peça citava Dias Toffoli, outro ministro da corte.
? Eu não falo sobre política, mas tenho o papel constitucional de defender as instituições. A corrupção precisa ser enfrentada no Brasil, não com arroubos retóricos ou como trunfo contra os adversários. Isso é o que sempre se fez. A novidade é que ela tem sido enfrentada, nos últimos tempos, com investigação séria, cooperação internacional, tecnologia e técnica jurídica. Esta é a grande diferença e a grande virtude do momento presente ? afirmou Barroso, sem mencionar o nome de Gilmar.
A declaração foi dada em uma palestra sobre liberdade de expressão, ministrada na Associação dos Advogados de São Paulo. Para Barroso, uma forma de frear o combate à corrupção é criticar o Ministério Público. Outra forma seria impedir a execução das penas depois de condenações por um tribunal de segunda instância. O STF decidiu que as prisões podem ocorrer nessas circunstâncias. Na próxima semana, o tribunal deve julgar o assunto de forma geral, definindo a regra para todo o país.
? Estas reações incluem ataques ao Ministério Público, tentativas de reverter a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que permite a execução de condenações após o segundo grau, articulações para preservar mandatos maculados e mudanças legislativas que façam tudo ficar tão parecido quanto possível com o que sempre foi ? declarou o ministro.
Segundo Barroso, reações contra apurações sérias podem impedir ?mudança de patamar ético de que o país precisa para se libertar de um ciclo histórico que nos retém atrasados, com códigos de relação pervertidos entre o público e o privado?. Ainda na palestra, o ministro criticou ?vazamentos seletivos? de investigações, sem apontar possíveis autores da irregularidade.
? Por evidente, o combate à corrupção, como tudo o mais na vida democrática, deve ser concretizado dentro das normas constitucionais e legais, com respeito ao direito de defesa, com proporcionalidade e transparência. O dever de transparência, por certo, não legitima vazamentos seletivos, venham da acusação, da defesa ou da polícia. A realização da justiça desperta interesses e paixões, mas jamais poderá prescindir da boa-fé objetiva entre os contendores ? declarou.