NITERÓI – Diversos estudantes deram de cara na porta quando chegaram para fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no Instituto de Artes e Comunicação Social (IACS) da Universidade Federal Fluminense (UFF) neste sábado. O local receberia 497 candidatos do concurso, mas foi ocupado por estudantes em protesto contra o governo nesta sexta-feira. Por conta disso, os participantes só poderão fazer a prova nos dias 3 e 4 de dezembro.
Em todo o país, são 404 escolas e universidades ocupadas, causando o adiamento do exame para mais de 271 mil candidatos. Quarenta dessas unidades foram ocupadas nos últimos dias, e muitas pessoas que fariam a prova nesses locais nem sabiam do impredimento.
Alguns pais de candidatos chegaram a discutir com representantes da ocupação na UFF. Os manifestantes ficaram diante do local para informar os candidatos que chegavam. A maioria dos alunos reclamava por não ter recebido nenhum aviso do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
Nos portões de entrada do IACS, um aviso do Inep lamentava “pelo transtorno” e informava sobre o adiamento, dizendo ainda que os estudantes afetados seriam informados sobre a realização da prova nos dias 3 e 4 de dezembro. Érica Antunes, mãe do candidato Daniel Antunes, chegou a bater boca com os manifestantes.
– Não vejo sentido de estudante atrapalhar estudante. Eles têm de atrapalhar o governo – criticou.
Apesar de fazer o Enem como treineiro, somente para testar seus conhecimentos, Daniel, que não recebeu nada do Inep, também reclamou do adiamento:
– Fico frustrado. Acho que não deviam fazer ocupação, mas também não sou a favor da PEC 241.
Os pais de outra candidata também se revoltaram quando viram que a prova havia sido adiada no local, mas não quiseram dar entrevista. Quando saíam, a mãe advertiu a filha criticando a ocupação: “veja só isso para você ter noção como é antes de sair defendendo certas coisas.”
Outro candidato saiu direto do trabalho para fazer o Exame, mas disse não se sentir revoltado com a situação. Daniel Vila Real, que quer uma vaga em Comunicação Social, criticou o descaso do Ministério da Educação.
– Se eu tivesse recebido algum aviso do MEC estaria mais seguro. Trabalhei de 19h às 7h, saí de lá, me arrumei e vim, me senti ignorado. É uma tristeza querer estudar na universidade pública e não ser nem avisado sobre adiamento da prova- disse o candidato, que não sabe se conseguirá se submeter ao exame nos dias 3 e 4 de dezembro por conta da escala de trabalho.
Já o candidato Daniel Almeida, de 18 anos, recebeu a mensagem de texto do Inep no celular, mas decidiu ir ao local para ter certeza.
– Desconfiei da mensagem e vim aqui esclarecer. Estava ansioso, queria que passasse logo esse momento. Mas pelo menos terei mais tempo de estudo – disse ele, que também não culpou os ocupantes pelo adiamento.
Estudante do pré-vestibular da UFF, Dandara Rosa, de 18 anos, diz conhecer os problemas da universidade e não protestou diante do adiamento.
– Fiquei nervosa pela falta de avisodo MEC. Sobre a ocupação, mesmo que os alunos não quisessem sair, aqui em Niterói há diversas escolas onde a prova poderia ser feita. Convivo na UFF e sei como são as condições, no prédio onde tenho aula o teto está caindo e tem rato. A maioria das pessoas que não são a favor da o ocupação é porque não passam por isso.
Membro da ocupação, Tali Sarai contou que ontem pela manhã os manifestantes conversaram com uma representante do MEC, mas não obtiveram resposta do que aconteceria.
– Falamos que sairíamos das salas para que o Enem fosse realizado. Ela disse que avisaria e não nos deu resposta. Hoje acordamos e os avisos estavam no portão avisando o adiamento. Estamos fazendo essa ocupação para que o estudante que passe no Enem consiga permanecer na universidade depois. Para que o Enem seja efetivo – argumentou.