RIO – À véspera do Dia Mundial de Luta contra a Aids, celebrado nesta
quinta-feira, o Ministério da Saúde divulgou números inéditos sobre a doença no
Brasil. Como adiantou o colunista Ancelmo Gois, a pasta estima que há hoje 827
mil pessoas infectadas com o vírus HIV no Brasil ? dentre os quais 112 mil não
conhecem o seu diagnóstico, 260 mil sabem do seu estado mas não iniciaram o
tratamento, e outros 455 mil estão em tratamento.
Após pedir um minuto de silêncio em memória às vítimas da queda de um avião
que conduzia a equipe de futebol do Chapecó e jornalistas, a diretora do
Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das DST/AIDS e Hepatites
Virais, Adele Schwartz Benzaken, apontou uma aproximação do Brasil às metas para
2020 determinadas pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS
(UNAIDS).
? Das 455 mil pessoas com Aids em tratamento no país, 410 mil têm carga viral
indetectável, o que se aproxima da meta da UNAIDS para 2020 de que 90% das
pessoas em tratamento apresentem carga viral indetectável, visando o fim da
epidemia em 2030. Pessoas com esta redução da carga viral têm melhor qualidade
de vida e a transmissão é quase anulada. O principal objetivo do Ministério da
Saúde hoje é cobrir o gap das 372 mil pessoas com Aids que ainda não
estão em tratamento ? apontou Adele.
O ministro Ricardo Barros comemorou novas parcerias em campanhas de prevenção
à Aids. A pasta lançou, com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a
campanha “Nós podemos construir um futuro sem Aids”, que vai mobilizar 11 mil
paróquias pelo país em campanhas de prevenção e a testagem do HIV. Fafá de Belém
protagoniza a ação. Além disso, o ministério organiza para esta quarta-feira um
talk show com youtubers sobre a doença.
? A estimativa é que 112 mil pessoas não saibam que portam o vírus. Elas
podem ter o vírus e não ter sintoma nenhum, e podem estar transmitindo o vírus
involuntariamente. Então é muito importante a detecção. A CNBB vai ajudar a
convencer as pessoas a fazer a testagem, que caso positivo, dará total acesso ao
tratamento ? apontou o ministro.
Veja abaixo os principais pontos apresentados:
– A transmissão do HIV de mãe para filho caiu 36% de 2010 a
2015: chamada de transmissão vertical, a contaminação de mãe para filho
teve queda, segundo a pasta, com a ampliação da testagem no pré-natal e no
reforço à oferta de medicamentos para gestantes. De 2010 a 2015, a taxa de
detecção de HIV em gestantes para cada 1000 nascidos vivos de subiu de 2,1 para
2,7; já a detecção em menores de cinco anos para cada 100 mil habitantes caiu de
3,9 para 2,5. Adele Schwartz lembrou que o aumento na detecção em mães leva a
uma diminuição na infecção dos bebês. Além disso, o ministério anunciou, para o
ano que vem, a certificação de municípios que eliminarem este tipo de
transmissão.
– A mortalidade pela doença diminuiu 42% desde 1995: com a
ampliação do diagnóstico e do tratamento, além de uma melhoria nas terapias
antivirais, o número de óbitos para cada 100 mil habitantes foi de 9,7 em 1995,
caindo para 5,6% em 2015.
– Entre os jovens, a razão entre infecção de homens e mulheres
aumenta: enquanto, no país, a cada uma mulher vivendo com AIDS, existem
dois homens infectados, entre os jovens de 20 a 24 anos, a razão se amplia para
um para três.
– Os jovens de 18 a 24 anos ainda são o grupo mais vulnerável no
tratamento: entre os jovens nesta faixa etária, apenas 57% estão em
tratamento. “Tenho algumas hipóteses para tantos jovens não estarem em
tratamento. O serviço de saúde não está preparado para uma atenção específica
para os jovens. Talvez nos últimos anos, tenhamos perdido a forma de nos
comunicar com eles. Por isso estamos buscando iniciativas com youtubers
e aplicativos, por exemplo. Outra hipótese é a da negação psicológica da
condição sorológica”, apontou Adele Schwartz. Por outro lado, as pessoas acima
de 50 anos são as que mais se cuidam.
– 552 milhões de camisinhas: este é o número de
preservativos masculinos distribuídos pelo governo federal em 2015;
preservativos femininos somaram 22 milhões. A chamada “prevenção combinada”, com
testagem regular de HIV, testagem pré-natal, tratamentos pré e pós exposição,
distribuição de preservativos, redução de danos, entre outros, foi apresentada
como um caminho acertado na atuação brasileira no combate à Aids. Ricardo Barros
lembrou que o antiviral dolutegravir começará a ser distribuído a 100 mil
pacientes em janeiro, e um novo tratamento pré-exposição será avaliado pela
Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS em fevereiro.
– Profissionais do sexo, travestis e homens em relações sexuais com
homens: Os grupos se apresentam como os mais vulneráveis à infecção
pelo vírus. “Todos os guidelines internacionais mostram que é preciso
fazer ações para populações-chave”, apontou Adele.
– Amazonas, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Rio de
Janeiro: Os estados apresentam as maiores taxas de infecção na
combinação de indicadores do HIV, como infecções e mortalidade. São por isso
chamados de “hotspots geográficos”.