Cotidiano

As transformações do mito Lou Reed guiam novo livro publicado no país

2000-008669-_20000315.jpgRIO ? Biógrafo de Andy Warhol e Keith Richards, o inglês Victor Bockris assinou ?Uptight: The Velvet Underground story?, em 1983, e em 1994 dedicou seu olhar ao líder do grupo, no livro ?Transformer: A história completa de Lou Reed?, lançado há pouco no Brasil, atualizado, após a morte do cantor, em 2013. A obra foi composta a partir de entrevistas feitas pelo autor e conta com um caderno de fotos, além da íntegra de duas conversas de Reed, uma delas à mesa com o escritor William Burroughs (1914-1997).

Como você conheceu Reed e o que o levou a escrever o livro?

Eu o conheci em 1974, entrevistando-o para o lançamento do disco ?Rock ?n? roll animal?. Eu já havia entrevistado Salvador Dalí, Mick Jagger, Burroughs, Warhol, e não fiquei nervoso, apesar de, nos meus 20 anos, as canções de amor de Lou terem mexido muito comigo. Acho, inclusive, que ele deveria ser mais reconhecido por suas canções de amor. Ele me fascinou porque, seguindo os passos de Jack Kerouac, que via seus livros como capítulos de uma mesma saga, Lou via seus discos assim. Bom, eu tinha 25 anos, e a entrevista que fizemos foi alucinante. E então, entre 1974 e 77, passei a visitá-lo. Ia a ensaios, shows, falávamos por telefone. Percebi aí que Lou era, sobretudo, um poeta. E passei a escutar seus discos como poesia. Era fascinado pelo mundo que ele escrevia. Tivemos um desentendimento nos anos 1980, mas isso nunca mudou minha afeição.

O que buscou revelar sobre ele no livro?

Tento conectar arte e vida, buscando suas origens, os tratamentos de eletrochoque, os romances frustrados, suas parcerias. Acima de tudo, Lou era um grande colaborador. É só olhar com quem ele se juntou: John Cale, Sterling Morrison, Moe Tucker, Andy Warhol, Nico, Bob Quine, Laurie Anderson! Como outros dos meus biografados, Lou foi incompreendido, mal interpretado e tratado como um merda durante um bom tempo. Então, o apresento de um jeito que possa ampliar e aprofundar o apreço pelo seu trabalho e pela grande novela americana que escrevia a cada disco.

?Transformer? faz pensar no trânsito de Reed entre formas artísticas. Ele fez música, literatura, teatro… Foi um artista ?trans? nesse sentido?

Lou atuou em diferentes formas de arte, mas, principalmente, escreveu canções. Acho que foi um poeta que aplicou uma disciplina científica a esse ofício. Era muito prolífico e adorava criar junto. As parcerias com Robert Wilson, por exemplo, resultaram em espetáculos e no álbum ?Lulu? (gravado depois com a banda Metallica), que é, provavelmente, o disco de encerramento de carreira mais poderoso da História do rock. Lou era multimídia. A sua fala já era algo. Grandes monólogos podem ser extraídos de suas entrevistas. Mas ele sempre voltava a sua única grande obra, que chamava de ?minha novela?, composta de canções e cartas que escrevia…

Como podemos dimensionar a influência que Warhol e Laurie Anderson tiveram sobre e ele?

Warhol considerava Lou um igual, e sua influência permeia todo seu repertório. Mas Laurie (com quem se casou em 2008) foi mais influente. Com ela, Lou explorou o mundo. Os discos de ambos eram cartas abertas escritas um ao outro. Eles se tornaram parte um do outro.