RIO Na estrada desde 2012, com o disco “Modehuman” (2014) e diversos shows pelo Brasil na bagagem, a banda potiguar Far From Alaska é repetidamente citada como um dos nomes fortes da nova geração do rock nacional. E 2016 tem sido um ano especial para o quinteto formado por Emmily Barreto (voz), Cris Botarelli (synths), Rafael Brasil (guitarra), Eduardo Filgueira (baixo) e Lauro Kirsch (bateria): além de ter feito seus primeiros shows nos Estados Unidos, a banda foi premiada como revelação no Midem, uma das maiores feiras voltadas à indústria musical do mundo, realizada em Cannes (França).
Fizemos a inscrição pela internet e fomos uma das 12 bandas de todo o mundo selecionadas para participar da feira. Entre as atividades tinha a premiação, o Midem Awards. E os jurados acabaram nos escolhendo como vencedores. Foi uma grande surpresa porque, pelo o que entendemos, eles fazem uma avaliação da trajetória da banda e escolhem a que tem maior potencial global. É muito legal porque, poxa, traz um gás novo, né? Cresce a esperança de expandir nosso som para o resto do mundo comemora Cris Botarelli em papo por telefone.
É com essa bagagem e uma dose extra de confiança que a Far From Alaska volta, nesta quarta-feira, ao Imperator. Depois de lotar a importante casa do Meiér no ano passado, a banda será, ao lado da petropolitana Hover e da carioca Stereophant, atração de um minifestival que comemora o Dia Mundial do Rock.
Esse show do Imperator no ano passado é um que guardamos na memória com muito carinho, porque é um dos melhores público que já tivemos. No Rio, a galera costuma ser legal, responsiva, mas aquele dia superou tudo o que esperávamos. Sempre lembramos por isso e estamos empolgados garante Cris.
Leia a entrevista na íntegra:
Como é voltar ao Imperator, uma casa nobre no Rio, depois de fazer um show lotado no ano passado? Logo o Rio, um lugar tão difícil de se encher casas, ainda mais em shows independentes…
Esse show do Imperator no ano passado é um que guardamos na memória com muito carinho, porque é um dos melhores público que já tivemos. No Rio, a galera costuma ser legal, responsiva, mas aquele dia superou tudo o que esperávamos. Sempre lembramos por isso e estamos empolgados.
E a apresentação é logo em uma data tão significativa, o Dia Mundial do Rock. Qual é a importância de ser uma banda potiguar no rol dos nomes principais nomes do novo rock nacional?
É bem legal, mostra que as coisas estão finalmente se conectando e que a distância não é um impeditivo tão grande quanto antes, quando se dependia de TV e rádio para escutar música. É nesse contexto que se torna possível uma banda lá da esquina do Brasil ter fãs no Rio Grande do Sul, lotar shows no Rio…
Por falar em música potiguar, a Plutão Já Foi Planeta está em alta agora por conta da participação no “SuperStar”. Lembro que, no ano passado, vi o show deles no festival DoSol, em Natal, e eles já tinham um público local bem forte, que sabia cantar as músicas. Aconteceu o mesmo com vocês?
Nossa história foi um pouco diferente, porque começou em São Paulo quando nos inscrevemos em um concurso para participar do festival Planeta Terra, em 2012. O primeiro show da banda já foi na seletiva para tocar no Planeta. Ganhamos e o segundo foi lá no evento! Bem legal. Só depois começamos a aparecer em Natal.
Então um palco grande com bom público nem deve assustar vocês mais, certo?
Claro que ainda assusta, dá um frio na barriga, mas a gente depende muito disso (da troca). É até um defeito nosso. Quando o público não está muito animado, meio frio, a gente não sabe lidar, fica nervoso…
Muito se fala de crise de popularidade do rock, mas vocês vêm bem nesse cenário. Lembro que no João Rock (festival em Ribeirão Preto) conseguiram “roubar” uma parcela do público do Paralamas…
Isso está mudando um pouco. As pessoas estão querendo coisas novas e, consequentemente, coisas novas de rock. No mainstream, o rock que faz sucesso é formado pelas mesmas bandas há 30 ou 40 anos. Longe de mim desconsiderar a trajetória desses caras, mas as pessoas querem novidades, caras novas, sangue novo. Percebemos isso não só nos nossos shows, mas nos dos amigos também.
Também se discute muito sobre bandas brasileiras que cantam em inglês. Mas isso não parece ser uma barreira muito grande para vocês…
Essa questão é engraçada porque somos de Natal e lá rola uma cena muito legal de rock. E, dentro dela, tem banda que canta em inglês, banda que canta em português, e ninguém liga muito para isso. Aqui no Sudeste que começou a ser uma questão, as pessoas nos questionavam e nossa resposta era “gente, qual é o problema?”. Temos até uma teoria sobre isso. Lá em Natal as coisas são feitas de uma maneira despretensiosa, porque a gente sobrevive da cenal local, de Natal, Fortaleza, João Pessoa… É esse o nosso foco. Aqui no eixo Rio-São Paulo as pessoas já entram querendo fazer sucesso, e acabam seguindo muito isso. Sinceramente, acho bem absurda essa discussão toda, porque tudo quanto é roqueiro escuta pelo menos 30 bandas de fora que cantam em inglês, por que não escutariam brasileiras?
Ainda em cima disso, vocês fizeram seus primeiros shows fora do país neste ano. O fato de não existir a barreira linguística é um trunfo?
Tem duas questões aí: a vantagem de finalmente estar cantando na língua das pessoas, ao mesmo tempo que há o desafio de tocar em países como os Estados Unidos, onde o rock meio que nasceu. Ficávamos com medo de sermos encarados como mais uma banda entre milhares, mas nos surpreendemos muito com o público. A galera pirou nos nossos shows lá. Música é música. Quando as pessoas curtem, não tem nacionalidade.
Em Cannes, foi mais ou menos a mesma coisa, mas dentro do contexto de estar tocando para as pessoas mais importantes do music business do mundo nos últimos 40 anos. Mas fomos bem recebidos lá também. Muita gente veio falar conosco. Conseguimos ser ouvidos por gente importante, que vinha e falava “não aguento mais ouvir só samba do Brasil”. Às vezes, nós mesmo reduzimos o Brasil apenas aos ritmos populares, e as pessoas lá fora podem estar esperando algo a mais. Eles sabem que o samba é samba, que é culturalmente muito importante, mas querem novidades.
E vocês acabaram sendo premiados por lá. Conta como foi isso.
Fizemos a inscrição pela internet e fomos uma das 12 bandas de todo o mundo selecionadas para participar do Midem. Entre as atividades tinha a premiação, o Midem Awards. E os jurados acabaram nos escolhendo como vencedores. Foi uma grande surpresa porque, pelo o que entendemos, eles fazem uma avaliação da trajetória da banda e escolhem a que tem maior potencial global. É muito legal porque, poxa, traz um gás novo, né? Cresce a esperança de expandir nosso som para o resto do mundo
O álbum “Modehuman” é de 2014, mas vocês seguem trabalhando na divulgação dele, lançaram o clipe de “Politiks” há três semanas… Por que essa decisão de seguir trabalhando no disco em vez de lançar algo novo?
Fomos seguindo o fluxo das coisas. Começamos a rodar muito o Brasil e sempre aparecia lugares novos que nunca tínhamos ido. E continuamos… Agora, resolvemos começar a compor o disco novo e deve sair neste ano, ainda. Mudamos muito nossa dinâmica de vida quando viemos morar em São Paulo. Estávamos viajando demais e não tínhamos a calma para parar e compor. O processo acabou sendo meio atropelado, mas agora estamos nos esforçando para isso e diminuímos um pouco o fluxo de apresentações.
A Pitty está lançando um novo DVD hoje, e é o principal nome da gravadora de vocês (Deckdisc). Ela é uma inspiração para você?
Com certeza. Principalmente pelo fato de ser mulher nesse meio. Nos últimos anos, pelo menos, ela é a única representante feminina no rock nacional mainstream. Observamos no mundo todo essa falta de referências femininas, mas, no Brasil, o cenário piora muito. A proporção de mulheres tocando é ainda menor. Quando fazemos shows por aí, sempre tem umas meninas que nos procuram e falam que gostaria de ter uma banda. O rock é um meio muito masculino e a gente lamenta muito isso. A Pitty é importantíssima dentro disso. Passei minha adolescência toda ouvindo ela, por exemplo. Ela tem um papel fundamental no meio disso tudo, de abrir o caminho.
Para terminar, o evento em que vocês vão tocar nesta quarta é um braço do Rio Novo Rock, um festival criado para fortalecer a cena rock carioca. No show de vocês no João Rock, em certo ponto, rolou uma invasão de amigos no palco, com integrantes de Scalene, Supercombo e Dona Cislene. A cena se fortalece na base da união?
É até meio óbvio isso, e o sertanejo está aí para provar que sim. As duplas vão se apadrinhando, chamando para fazer shows juntos e, pronto, todo mundo faz sucesso ao mesmo tempo. É muito curioso que o rock não fosse assim até então. Em Natal, tem muito isso, por ser uma cidade pequena. Todo mundo faz tudo junto. E até estranhamos isso quando chegamos em São Paulo e a galera não se conhecia. Era um choque. Não adianta forçar, mas agora está rolando naturalmente. Fizemos parcerias com Scalene e Supercombo, vai sair música com a Inky… E é algo bem natural, porque estamos tocando juntos direto, as bandas estão no mesmo momento e, acima de tudo, somos amigos.
SERVIÇO
Dia Mundial do Rock com Far From Alaska, Stereophant e Hover
Onde: Imperator Rua Dias da Cruz, 170, Méier (2597-3897).
Quando: Nesta quarta-feira, às 19h.
Quanto: R$ 30.
Classificação: 16 anos.