Cotidiano

Após dia tenso, Mandetta segue ministro da Saúde

Ministro reclamou das críticas e pediu paz pra equipe poder trabalhar

Após dia tenso, Mandetta segue ministro da Saúde

A segunda-feira (6) foi tensa em Brasília. A possibilidade da saída de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde repercutiu por todo o Brasil e se intensificou após a notícia de que o presidente Jair Bolsonaro havia convocado uma reunião com todos os ministros. No dia anterior, Bolsonaro voltou a fazer críticas veladas ao ministro, falando em “estrelismo” e que poderia usar sua caneta.

Por volta das 20h15, o Ministério da Saúde iniciou uma transmissão ao vivo via Facebook. Após vários minutos de espera, Mandetta apareceu frente às câmeras com praticamente todos os secretários do Ministério ao seu lado.

Com o semblante cansado, mas a voz firme, ele começou falando sobre a presença maciça dos funcionários do Ministério na sala de coletivas, falou que trabalha com a melhor equipe que poderia imaginar, repetiu que todo o trabalho é pautado pela técnica e, finalmente, disse que seguirá como ministro.

Contudo, Mandetta reclamou das críticas não produtivas e que espera melhores condições de trabalho a todos.
Repetiu que o momento é de distanciamento social, de proteger os idosos, e que vai atrás da China para conseguir liberar os EPIs (Equipamentos de Proteção Individuais) necessários para os profissionais de saúde.

A crise
O motivo que levou o presidente Jair Bolsonaro a cogitar a demissão de Mandetta foram as divergências públicas de ambos a respeito das estratégias para conter a velocidade do contágio pelo novo coronavírus. O presidente defende o que chama de “isolamento vertical”, ou seja, isolar somente idosos e pessoas com doenças graves, que estão no grupo de risco, a fim de não paralisar a economia. O ministro é a favor do isolamento mais amplo, adotado por governadores, pelo qual a recomendação é que as pessoas se mantenham em casa.

Na tarde de domingo, Bolsonaro disse a apoiadores no Palácio da Alvorada que alguns ministros viraram “estrelas” e falam “pelos cotovelos”. O presidente afirmou também que a caneta dele funciona. Sem mencionar nomes, disse que “a hora deles [em referência a esses ministros] ainda não chegou. Vai chegar”.

Na noite do mesmo dia, chegou a dizer para um interlocutor: “Já está demitido”. Só faltava definir em que momento.

Reação
Bolsonaro não contava com a reação pró-Mandetta. Auxiliares militares do governo se manifestaram contra a demissão. Esses auxiliares disseram ao presidente que “o pior” cenário seria demitir o ministro em meio à crise do coronavírus.

A bancada da Saúde no Congresso também manifestou unânime apoio ao ministro, assim como os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Este último, inclusive, chegou a prever um choque entre Executivo e Parlamento se a saída de Mandetta se confirmasse.

União
Na reunião com os ministros, Bolsonaro falou em “união” e disse que a hora é de se confiar “uns nos outros”.

Na noite de domingo, Mandetta chegou a desabafar, segundo interlocutores, em telefonemas aos ministros Braga Neto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). “Ameaça não dá. O presidente tem de tomar uma decisão”, afirmou Mandetta aos dois ministros, segundo interlocutores, divulgados por jornais nacionais.

Ele também vinha se declarando “magoado” com ataques a ele e a familiares nas redes sociais bolsonaristas.