DAVOS – Apesar das incertezas provocadas pela saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) e pela eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, a economia global deve ter um desempenho mais favorável em 2017. Essa foi a avaliação de representantes dos países desenvolvidos que participaram do painel ?Panorama Econômico Global?, principal evento do último dia do Fórum Econômico Mundial de Davos, Suíça. O debate, mediado pelo editor do Financial Times, Martin Wolf, teve a participação da diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, dos ministros das Finanças do Reino Unido, Philip Hammond, e da Alemanha, Wolgang Schäuble, do presidente BC japonês, Haruhiko Kuroda, e do presidente da BlackRock (maior gestora de fundos do mundo), Larry Fink.
Único representante do setor privado no painel, Fink disse que Trump ? nome mais citado ao longo da semana em Davos ? trouxe otimismo para a economia americana, especialmente por parte dos eleitores do milionário e também de pequenos empresários. Segundo ele, o mesmo ocorreu no Reino Unido com os britânicos que votaram a favor do Brexit.
– Brexit e Trump tiveram impacto no comportamento de famílias que viram sua voz ser ouvida. Vamos saber se eles estão certos no futuro. Mas o fato é que essas pessoas estão consumindo mais – disse o presidente da BlackRock.
Ele destacou que a sinalização dada por Trump para a economia americana é o uso de uma política monetária mais rígida e uma política fiscal mais flexível, com incentivos tributários e subsídios para alguns setores. O problema, disse Fink, é saber como isso será custeado. Para o executivo, uma das consequências na área monetária é que o dólar tende a se fortalecer:
– Algumas das políticas vão afetar o câmbio, fortalecer o dólar e afetar a competitividade dos Estados Unidos. O fato é que vamos ver no mundo um dólar mais forte.
Seguindo os passos da primeira-ministra, Theresa May, o ministro do Reino Unido ressaltou que a saída da União Europeia não foi um rompimento do país com as relações comerciais. May também veio a Davos esta semana fazer um discurso conciliador para tentar desfazer o mal-estar que se instalou na Europa depois do Brexit.
– O Brexit não foi resultado de uma reação antiglobalização e anticomércio. Estamos tentando esclarecer esta semana para onde queremos ir. (A saída da UE) não significa que não possamos ter um acordo de livre comércio com União Europeia. O Reino Unido tem como principal parceiro comercial a UE e queremos que o nosso principal parceiro esteja bem e que o euro seja uma moeda estável e forte – disse Hammond, destacando que a escolha dos britânicos foi ligada principalmente à forma como o bloco europeu está lidando com a questão migratória.
Ele fez questão de dizer que o movimento do Reino Unido não tem o viés protecionista que Trump defendeu durante a campanha à presidência. No debate, outros representantes dos países ricos saíram em defesa da abertura comercial internacional. O ministro alemão chegou a dizer que seu país não vai deixar a China ser o único defensor do livre comércio.
– Não deixaremos a defesa do livre comércio apenas com as lideranças chinesas – afirmou Schäuble.
O Fórum de Davos apresentou esta semana um quadro que poucos imaginaram. Enquanto o presidente americano, que não veio à Suíça, fazia um discurso protecionista nos Estados Unidos, o chinês, Xi Jinping, compareceu ao evento e defendeu fortemente a globalização e o livre comércio. Ele comparou o protecionismo a ?trancar-se num quarto escuro? para se proteger do perigo, ao mesmo tempo privando a sala de ?luz e ar?.
Christine Lagarde adotou um tom cauteloso. Segundo ela, se os resultados da economia forem mais negativos em 2017 em decorrência dos fatores de 2016, especialmente políticos, o mundo terá muitos ?cisnes negros?, termo usado para descrever eventos raros, imprevisíveis e de alto impacto nos mercado financeiros.