A eleição de Marcelo Crivella à prefeitura do Rio é novidade das mais relevantes. Representa o lançamento de um projeto de poder político-religioso, essencialmente conservador, que floresce no jardim onde restam cinzas das forças políticas dominantes nas últimas três décadas.
O ?projeto de nação idealizado por Deus para o Seu povo? existe. Um esboço encontra-se no recém-lançado ?Plano de poder ? Deus, os cristãos e a política?, assinado pelo tio de Crivella e líder da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, em parceria com o jornalista Carlos Oliveira.
O senador Crivella é missionário numa nova experiência eleitoral, construída a partir de engajamento, consenso e mobilização de agrupamentos evangélicos, sob patrocínio da Universal, uma das maiores e mais ricas organizações neopentecostais do país. Possui seis mil templos, 23 concessões de televisões, 20 retransmissoras e 76 rádios cobrindo 80% do território nacional. Também tem um braço partidário, o PRB, com 22 deputados federais, 80 prefeitos e 1,3 mil vereadores.
Com platitudes (?vamos cuidar das pessoas?), e tentando descolar sua imagem da Universal, conforme prescrevia o receituário de marketing da própria igreja, Crivella extraiu das urnas 1,6 milhão de votos ? cerca de 300 mil menos que a soma de ausências, votos nulos e em branco, o que não deixa de ser sugestivo.
Ele confirmou na segunda maior cidade brasileira o potencial de influência de uma coalizão impulsionada pelos evangélicos, montada para decidir uma eleição ?tanto no Legislativo, quanto no Executivo?, como escreveu seu tio e mentor em ?Plano de poder?.
Crivella vai tentar transformar o Rio em vitrine desse projeto religioso-conservador.
O objetivo é a conquista do poder no ?interesse de Deus? para que ?Seu projeto de nação se conclua?. Será protagonista de um teste para o Estado laico no Brasil.