A participação do Brasil nas exportações globais de açúcar pode cair de mais da metade para cerca de um terço do comércio na safra mundial 2017/18, resultado de uma menor produção no País e do incremento de oferta em todos os principais concorrentes, de acordo com dados da INTL FCStone.
O excedente exportável de açúcar do Brasil deve alcançar 22,2 milhões de toneladas na temporada vigente (outubro/setembro), o que representaria 35,46% do total previsto mundo afora, conforme números da consultoria.
Com grandes safras, União Europeia e Tailândia devem tomar espaço das exportações do Brasil, que no ciclo passado contou com um excedente exportável maior, de 30 milhões de toneladas, ou 52,54% do total no mundo.
Os dados da FCStone destacam um cenário de maior concorrência para o Brasil, principal produtor e exportador mundial de açúcar, que está direcionando fortemente a moagem de cana para a produção de etanol, devido aos preços baixos do adoçante em meio ao excesso de oferta gerado por recordes na Índia, na União Europeia e na Tailândia.
“O Brasil vem perdendo participação há alguns anos e o Centro-Sul deixou de ser nesta safra um ‘driver’ [piloto] para os preços”, afirmou o analista de açúcar e etanol da consultoria, João Paulo Botelho, referindo-se à principal região produtora do País, onde o calendário de safra é diferente e vai de abril a março.
Com efeito, o Centro-Sul do Brasil pode fabricar até 6 milhões de toneladas de açúcar a menos neste ano, segundo projeções de diversas consultorias, resultado da preferência das usinas pelo etanol e também de renovações e tratos inadequados nos canaviais após anos de dificuldades financeiras no setor. “A safra do Brasil está estagnada há dez anos em termos de ATR [Açúcares Totais Recuperáveis]”, avaliou o diretor da produtora de açúcar Südzucker do Brasil, Rui Sabino.
De modo geral, a expectativa é de que a fabricação de açúcar no Centro-Sul neste ano recue para cerca de 30 milhões, ante 36 milhões de toneladas na temporada anterior.
Muita oferta
Em tempos passados, uma projeção de menor produção no Brasil seria suficiente para sustentar as cotações internacionais do açúcar bruto, cujos contratos são negociados na Bolsa de Nova York.
Mas não é o que se vê atualmente, com os preços em queda e no menor patamar em mais de dois anos, no caso do primeiro contrato da bolsa. Já o segundo contrato, o julho, atingiu o menor valor desde 2008, na semana passada.
A razão para esse movimento está nos outros grandes produtores de açúcar. Índia, Tailândia e União Europeia devem registrar safras recordes em 2017/18.
O caso mais emblemático é o da Índia, que, em meio a condições favoráveis e apoio governamental, deve impulsionar a produção neste ano para mais de 30 milhões de toneladas. “A produção de açúcar na Índia deve superar 31 milhões de toneladas. O país deve produzir mais do que o Centro-Sul do Brasil na safra [global] 2017/18”, disse o consultor Bruno Guimarães, da INTL FCStone, durante apresentação em evento da consultoria.
Pelos dados da INTL FCStone, a Índia contará com um excedente exportável de açúcar de sete milhões de toneladas em 2017/18, revertendo um déficit de 4,7 milhões no ano anterior.
No entanto, não há clareza se a Índia – maior consumidor global de açúcar – poderá avançar fortemente no mercado global de exportação ou se acumulará estoques, uma vez que geralmente consome tudo o que produz e precisa, em alguns anos, recorrer à importação para suprir o mercado doméstico.
União Europeia
A UE é outra região que também deve passar de déficit para superávit de açúcar disponível para venda ao exterior. A reversão se segue ao fim do regime de cotas de produção e exportação em outubro do ano passado.
De acordo com a INTL FCStone, os países europeus contarão com excedente exportável de 2,7 milhões de toneladas de açúcar, contra déficit de 1,5 milhão em 2016/17.
Já no caso da Tailândia, segundo maior exportador após o Brasil e que contou com condições climáticas favoráveis, o excedente exportável deve saltar a 10,8 milhões de toneladas nesta safra, de 7,1 milhões na temporada anterior. Com isso, a nação asiática passará a responder por mais de 15% de toda a exportação mundial do alimento, segundo os números da INTL FCStone.