Com três execuções somente nos primeiros 13 dias de outubro, Cascavel registrou até ontem 52 homicídios. Desse total, conforme levantamento feito pelo Hoje News, mais de 73% dos crimes foram praticados por arma de fogo, ou seja, sete em cada dez. Revólveres e pistolas que, segundo a Lei do Desarmamento, em vigor desde 2003, não poderiam estar ao alcance da população. São as principais armas utilizadas para tirar a vida do outro.
Dentre as mortes deste ano, destaque para as execuções registradas nos últimos dias: Silvair Ferreira de Morais, Clayton Souza de Almeida e Kevin Alan de Franca Nobre.
Silvair foi assassinado no dia 4 de outubro, no Bairro Santa Cruz. Ele estava parado dentro de seu veículo, um Astra, quando um homem de capacete teria atirado contra a cabeça da vítima. Já Clayton chegava em casa, de moto, na noite do dia 12, no Bairro Guarujá, quando foi alvejado por tiros na cabeça, tórax e ombros, morrendo na hora. Kevin foi executado com dois tiros na cabeça, na tarde do dia 13, no Bairro Cascavel Velho.
Nenhum destes casos foi elucidado pela polícia ainda. Em relação à morte de Silvair, imagens de segurança devem auxiliar nas investigações. Nos outros dois casos, a Delegacia de Homicídios deve se manifestar somente hoje.
A fronteira
De acordo com o responsável pelo setor de relações públicas da Polícia Militar, tenente Roberto Tavares, a facilidade para aquisição de armas de fogo de maneira ilícita está diretamente atrelada com a posição geográfica de Cascavel. “Infelizmente ficamos na rota de entrada do País e por ali entra de tudo, desde produtos eletrônicos até drogas e armas”, lembra.
Segundo ele, as forças de segurança pública da região trabalham incansavelmente para combater esses crimes. “A demanda é muito grande, mas mesmo assim as polícias continuam abordando e usando seus efetivos para combater o crime na fronteira e na região”, garante.
Outras armas
Além das armas de fogo, criminosos usam outros tipos de ‘artifícios’ para matar. Segundo levantamento do Hoje News, as armas brancas (facas e facões) foram responsáveis por seis mortes, além de um caso em que um homem foi assassinado com um espeto. As vítimas foram Nicolas Ellert Luiz, Aroldemar Capistrano Ferreira, Rogério Machado Barcelos, Amarildo Batista Correia, Maria Virgínia da Silva, Eduardo Alberto Telles e Jhonata Machado.
Conforme as investigações da Delegacia de Homicídios, destes sete casos, três tiveram motivação passional. Já as mortes de Valdeci França e Augusto Ferreira de Lima foram a pauladas.
Cristiano de Souza foi morto a pedradas, Márcio Xavier Barbosa foi vítima de agressão e a jovem Marigeize Dalbosco Gomes, que estava grávida de oito meses, foi morta por enforcamento pelo seu companheiro, Luis Roberto Gomes, que se suicidou em seguida.
As outras duas mortes foram de Salete de Fátima dos Santos e José Carlos dos Santos. Salete foi morta em um acidente de trânsito, na madrugada do dia 21 de janeiro, que foi provocado intencionalmente pelo companheiro. Ela foi sequestrada em sua casa por Pedro Fernandes, que a obrigou a entrar em um veículo. Em alta velocidade, Pedro seguiu pela BR-369 e, em determinado trecho da rodovia, jogou o Gol em que estavam contra um ônibus. Salete morreu na hora e Pedro conseguiu fugir. Ele se apresentou dias depois à Polícia.
Já José Carlos foi encontrado morto na manhã do dia 22 de julho, na PEC (Penitenciária Estadual de Cascavel). Segundo laudo do IML (Instituto Médico Legal), José morreu de hemorragia interna e a Delegacia de Homicídios instaurou um inquérito para apurar como a morte aconteceu dentro da unidade prisional.
AUTORIZAÇÃO
Quem pode usar arma de fogo?
Em vigor em todo território nacional desde 2003, a Lei do Desarmamento foi criada para regulamentar o uso de arma de fogo no Brasil. Com a Lei, todas as pessoas que quiserem ter uma arma em casa precisam passar por uma avaliação minuciosa, feita pela Polícia Federal. Além disso, a compra e venda de arma de fogo também foi regulamentada e é fiscalizada pela PF e pelo Exército.
De acordo com informações da Polícia Federal, que autoriza o porte e posse de arma de fogo, o cidadão que deseja adquirir uma arma precisa preencher alguns requisitos. Dentre eles está a idade mínima de 25 anos; uma declaração por escrito expondo fatos e circunstâncias que justifiquem o pedido de aquisição de arma de fogo, demonstrando a efetiva necessidade; comprovar idoneidade, apresentando certidões negativas criminais, fornecidas pela Justiça Federal, Estadual, Militar e Eleitoral, além de comprovar que não responde a nenhum inquérito policial ou processo criminal; possuir uma ocupação lícita; aptidão psicológica atestada por profissional credenciado pela Polícia Federal; e claro, possuir capacidade técnica, atestada por um instrutor de tiro credenciado pela Polícia Federal.
Mas, para conseguir o porte é necessário passar pelo processo de compra do armamento, que pode ser, por exemplo, um revólver calibre 38, uma pistola calibre 380 ou mesmo uma espingarda calibre 12. Somente com a autorização da aquisição da arma é que a Polícia Federal dá prosseguimento ao porte. Cabe ressaltar que o lojista só entregará o armamento quando o proprietário estiver com o registro e a guia de trânsito em mãos.
Crime
Quem for flagrado pela polícia com uma arma guardada em casa ou mesmo com munições, de uso permitido, responderá criminalmente, com pena de detenção de um a três anos, além de multa. Já quem for flagrado portando a arma em outros locais, a pena sobe para dois a quatro anos de reclusão, mesmo que o registro da arma esteja regular.