Ponta Grossa – O MPF (Ministério Público Federal) e a PF (Polícia Federal) consideram ter encontrado elementos de prova de que executivos e técnicos da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, mantinham um esquema sistematizado de fraudes em laudos e adulteração de dados para ocultação de informações do Ministério da Agricultura, voltado a maximizar lucros e cuja dimensão é ainda “incomensurável”. As suspeitas são que os crimes eram cometidos com a participação ativa de membros da cúpula da empresa.
Os investigadores da Operação Trapaça suspeitam que o ex-presidente da BRF Pedro de Andrade Faria (2015 a 31 de dezembro de 2017) e o ex-vice-presidente do grupo Hélio Rubens Mendes dos Santos Júnior tinham papel ativo no esquema. Ao pedir a prisão dos dois à Justiça, o MPF apontou a necessidade de levantamento de mais documentos para apurar o envolvimento – ou não – deles com ilícitos, a possibilidade de destruição de material ou coação de testemunhas e investigados na Trapaça – a terceira fase da Carne Fraca deflagrada segunda-feira (5).
“Tendo em vista os indícios de que era política da empresa adulterar laudos e criar documentos ideologicamente falsos, há de se tomar como séria a possibilidade de que os funcionários da BRF ligados ao esquema promovam a destruição sistemática de provas, uma vez deflagrada esta fase da investigação”, escreveu a procuradora da República Lyana Helena Joppert Kalluf, no parecer do pedido de prisão entregue à Justiça Federal, em Ponta Grossa.
Os dois executivos e outros nove pessoas ligadas à BRF foram presos temporariamente, por cinco dias. Quatro foram soltos até quarta-feira, após prestarem depoimentos à PF. Faria e os demais investigados podem responder por associação criminosa, falsidade ideológica e crimes contra a saúde pública, caso sejam confirmadas as suspeitas.
“O alcance dos atos praticados é incomensurável, colocando em risco a saúde e também a credibilidade do Brasil no mercado externo, em detrimento de empresas de impecável atuação no comércio exterior”, afirma a procuradora.
Condutas criminosas
Os elementos levantados até agora na Operação Trapaça indicam, segundo o MPF, é “um universo de condutas criminosas por meio das quais a BRF – valendo-se do seu poderio econômico, frustrou a efetiva fiscalização de suas atividades, em menoscabo dos órgãos federais de controle e, em última análise, do mercado consumidor”. As quatro frentes de investigação indicariam um esquema mais amplo e generalizado nas unidades do grupo.
Por isso, as prisões temporárias dos executivos da BRF serviriam para impedir as supostas práticas criminosas, mas para que sejam “tomadas providências eficientes de ordem administrativa, protegendo então consumidores e a visibilidade do Brasil no mercado internacional”.
“Não se está diante de atos de corrupção, nem ativa, nem passiva, junto ao Ministério da Agricultura, mas sim de delitos praticados nos Campos Gerais, em detrimento da saúde.”
O grupo BRF informou que a empresa está mobilizada para prestar todos os esclarecimentos à sociedade e que segue normas brasileiras e internacionais.