Entre Rios e Mercedes – Algumas reestruturações do contrabando na fronteira do Brasil com o Paraguai realocou parte da dinâmica da entrada indevida de cigarros para dois municípios beira Lago de Itaipu e que ficam às margens do Rio Paraná.
Segundo investigação da Polícia Federal, duas pequenas cidades voltaram a ser parte dos principais polos do contrabando de cigarro na faixa paranaense da fronteira. Isso ocorre desde a soltura de um importante contrabandista que vive ali e que havia sido preso por esse mesmo motivo.
Entre Rios do Oeste e Mercedes se consolidam, mais uma vez, como municípios importantes à logística ilegal do produto que entra pela região e que abastece boa parte do mercado nacional.
Segundo o delegado da Polícia Federal em Cascavel, Marco Smith, e que atuou por anos na Delegacia da PF em Guaíra, os dois municípios nunca deixaram de ser importantes para o contrabando, mas com o principal contrabandista de volta às ruas, esse volume de tráfego tem aumentado, exigindo que a fiscalização feche o cerco por terra e por água.
Somente nesses dois municípios, a PF estima que estejam atravessando 3 mil caixas de cigarros por dia, principalmente à noite, quando a fiscalização fica mais comprometida.
O transporte é feito por lanchas superpotentes que têm pilotos experientes e que conhecem bem o leito do rio, não se intimidam com a fiscalização nem com a escuridão e sabem certeiramente onde atracar.
O desembarque segue em portos clandestinos, por centenas deles, na barranca do rio onde são abertas clareiras no meio da mata às margens do lago. Ali veículos de passeio esperam para transportar o produto até galpões, nas proximidades, e muitos deles em propriedades rurais cedidas ou alugadas por produtores, onde ficam estocados até o transporte final. “E para quem já tem toda uma logística bem traçada para o transporte de cigarros, nada impede que com essas cargas sigam as drogas, as armas e as munições”, alerta o delegado.
Considerando que na atual dinâmica e para driblar a fiscalização as quadrilhas têm trabalhado quatro noites por semana, somente nos dois municípios são ao menos 12 mil caixas semanais e quase 50 mil por mês. Isso representa um movimento financeiro na ordem dos R$ 30 milhões/mês, mas eles não param por aí.
Se há pouco mais de seis anos eram 20 quadrilhas que dominavam a região lindeira no milionário esquema do contrabando de cigarros que hoje já responderia por quase metade do abastecimento e do consumo nacional, hoje a dissidência de grupos e abertura de novos eixos consumidores já fez esse número ser ampliado em 50%. Isso significa que existem, em pouco mais de 150 quilômetros desde Santa Helena até Guaíra, pelo menos 30 quadrilhas.
Elas não são consideradas de grande porte, tendo em vistas que as maiores estão concentradas no vizinho estado do Mato Grosso do Sul. Porém, as que estão por aqui atravessariam, também de acordo com a Polícia Federal, 50 mil caixas por semana podendo chegar, então, de 200 mil a 250 mil caixas por mês. Colocado no mercado, esse cigarro tem rendido a esses grupos algo na ordem dos R$ 150 milhões por mês e R$ 2 bilhões por ano.
Trabalho de inteligência e rastreabilidade das quadrilhas
Rastrear as quadrilhas não tem sido uma missão impossível. O mais difícil tem sido flagrá-las em ação. Com olheiros espalhados por toda a fronteira, a travessia e o movimento simplesmente cessam toda vez que as forças de segurança estão com as equipes na água ou nas estradas, principais ou vicinais. Parte dos flagrantes que vêm sendo feitos – a exemplo de um caminhão carregado com 600 caixas flagrado no último domingo – ocorre com o trabalho de inteligência.
O modelo de transporte para todos os cantos do Brasil segue audacioso.
Parte vai com carros de passeio, geralmente veículos furtados ou roubados e com motores potentes que ajudam no momento da fiscalização, ou ainda da maneira mais audaciosa, com caminhões abarrotados com cargas que nem sequer são camufladas.
Essa certa facilidade para o transporte segue calcada em outro problema difícil de ser erradicado: o envolvimento de agentes públicos de segurança na facilitação e na conivência do transporte. Entre os exemplos de repressão está a prisão de dois policiais rodoviários federais há cerca de dois meses no noroeste do Estado.
Os serviços de inteligência também identificam o envolvimento de grandes grupos criminosos no esquema. O PCC (Primeiro Comando da Capital), por exemplo, tem se capitalizado com o auxílio do contrabando de cigarros com compradores certos pelo Brasil, com rentabilidade assegurada.