Cotidiano

Vice-governador de São Paulo provoca cisão entre tucanos

SÃO PAULO – A engrenagem de dissidência e discórdias do PSDB voltou a ser acionada. Dessa vez, quem virou a chave foi o vice-governador de São Paulo, Márcio França, do PSB. Ao se movimentar para lançar o governador Geraldo Alckmin como candidato à presidência em 2018 , ele conseguiu provocar uma cisão até mesmo no campo tucano alckminista e, ao longo da semana passada, foi alvo de fritura com a divulgação pela imprensa de um inquérito por corrupção no Porto de Santos em andamento no Ministério Público Estadual (MPE).

Na mesa está a definição da candidatura ao governo do estado e à presidência. Em troca do apoio do PSB de França para o projeto de Alckmin ao Planalto, o governador poderia lançá-lo para disputar São Paulo.

Aliado histórico de Alckmin, o atual presidente estadual do PSDB, Pedro Tobias reage quando questionado sobre se os tucanos apoiariam a candidatura de Márcio França:

– Você está querendo me provocar? – responde exaltado.

Para barrar o movimento, Tobias se lançou à reeleição para presidência do diretório estadual paulista inesperadamente em janeiro. Em tom de bravata, promete ser ele mesmo o candidato ao governo caso o PSDB não apareça com um nome próprio para a disputa.

A resistência ao nome de França é comandada pelo chanceler José Serra, conhecido opositor de Alckmin no partido, mas é engrossada pelos próprios parceiros do governador. À frente do estado há mais de 20 anos, os tucanos paulistas não aceitam a ideia de perder o comando da máquina, o que aconteceria certamente se eles não tiverem a cabeça de chapa, como está nos planos de Alckmin.

Por outro lado, o governador nunca esteve tão forte no estado. Além de controlar a executiva estadual, Alckmin foi o fiador do projeto até agora bem-sucedido de João Doria para a prefeitura paulistana e ainda está prestes a emplacar um ex-secretário, o jurista Alexandre de Moraes, como Ministro do Supremo. Acumula força para rivalizar com a executiva nacional tucana, dominada pelo senador Mineiro Aécio Neves, com quem ele tenta disputar prévias para a candidatura à presidência. Se nada der certo, há quem acredite que ele possa romper com o PSDB e se lançar candidato pelo PSB. Nesse caso, contaria com o trabalho de França e até mesmo de Doria em favor de seu nome.

Por outro lado, Márcio França ainda não conseguiu se cacifar como a liderança nacional do PSB, acéfalo desde a morte de Eduardo Campos, durante a campanha eleitoral de 2014. Embora tenha mais força do que os três governadores da sigla, que governa Pernambuco, Distrito Federal e Paraíba, seu plano de sacrificar a candidatura própria do PSB à presidência desagrada ao campo pernambucano da sigla. A família Campos, no entanto, tem dito a nomes do PSB que nutre simpatia por Alckmin, cujo comportamento foi extremamente solidário durante o episódio do acidente de avião. Haveria, portanto, terreno para uma costura. Para pavimentar seu caminho ao Palácio dos Bandeirantes, França tentará se eleger presidente nacional do PSB no fim do ano. Como dirigente da legenda e contando que terá nove meses como governador em exercício, ele acredita que transformará seu nome em fato consumado para a disputa eleitoral.