Cotidiano

Transolímpica entra na reta final com moradores ainda em dúvida sobre projeto

2016 909827604-201605161438314560.jpg_20160516.jpgRIO – Até o fim deste primeiro semestre, os moradores de Jacarepaguá terão uma via a mais e um incômodo a menos no seu dia a dia. Irão embora os canteiros do Transolímpico e ficará o corredor expresso, com seus BRTs, sua pista para veículos e seus dois pedágios. Enquanto a prefeitura comemora a entrega de mais uma grande obra, parte do legado olímpico, ao custo de R$ 2,2 bilhões, quem mora na região coleciona dúvidas ainda não respondidas.

De porte monumental, o Transolímpico integrará 11 bairros. A estimativa é que, logo no início, 55 mil veículos passem por ele diariamente. Dentro de cinco anos, a previsão é de até 90 mil. O poder público espera que esta se torne uma alternativa tão importante para os cariocas quanto a Linha Amarela.

No início do mês, repórteres do GLOBO percorreram o Transolímpico. O traçado, com poucas curvas, permite que se cumpra o trajeto rapidamente. Usuários do serviço de BRT também não deverão enfrentar os buracos encontrados constantemente no Transoeste: em vez de asfalto, a pista dos ônibus biarticulados é de concreto.

A via deverá ser uma alternativa à Estrada do Catonho, que desemboca nas proximidades do local onde ficará o pedágio no sentido Avenida Brasil. O valor será de R$ 5,90, como na Linha Amarela. Estima-se que o morador de Jacarepaguá gastará cerca de 30 minutos para percorrer seus 26 quilômetros de extensão. Atualmente, fazer a mesma rota leva até uma hora e meia. O trecho de concessão, que se inicia no encontro entre a Avenida Salvador Allende e a Estrada dos Bandeirantes, tem cerca de 13 quilômetros, e será uma via expressa que operará com um limite de velocidade de 80 quilômetros por hora.

Para o morador de Jacarepaguá, o principal impacto será a redução no número de carros circulando pelo bairro. De acordo com o secretário municipal de Obras, Alexandre Pinto, Curicica deve ser a área que mais se beneficiará do novo BRT.

? A Taquara usa mais o Transcarioca ? avalia ele. ? Os moradores de Curicica, Colônia Juliano Moreira e Taquara sentirão um impacto grande; o caminho deles, tanto para chegar à Baixada Fluminense como para ir até a Barra da Tijuca, será significativamente encurtado.

De acordo com o secretário, a inauguração da via deve retirar veículos da Estrada dos Bandeirantes, da Rua André Rocha, da Estrada de Curicica, da Estrada do Rio Grande e da Avenida dos Mananciais.

Morador de Curicica, o secretário reconhece que as obras, iniciadas em julho de 2012, trouxeram transtornos para quem é da região:

? Foram muitas as mudanças no trânsito devido ao trabalho. No dia a dia, eu sofri um pouquinho.

Redução de ônibus preocupa

Ao longo da construção do Transolímpico, a preocupação de evitar desapropriações foi maior do que em outras obras previstas no caderno de encargos dos Jogos Olímpicos. De acordo com o secretário municipal de Obras, Alexandre Pinto, foram feitas alterações no traçado para evitar a retirada de um grande número de famílias. A mudança obrigou os engenheiros do consórcio construtor a cortar ao meio uma rocha que havia no caminho da via.

? Foram mais de dez detonações, mas não houve aumento de custos ? diz o secretário de Obras, Alexandre Pinto. ? O que gastamos mudando o trajeto deixamos de usar em compensações por desapropriações. Sem contar o custo intangível de se tirar gente do local em que vive.

De acordo com a Secretaria municipal de Obras, com o traçado antigo seriam necessárias 1.098 desapropriações. Com o novo, este número caiu para 258. Hoje, é a falta de informação que ronda os moradores das regiões afetadas pelas obras. As questões envolvem mais o impacto que a via expressa pode ter no dia a dia, como aumento da violência ou extinção de mais linhas de ônibus.

? Uma coisa que me preocupa bastante são as passarelas (de acesso às estações do BRT) ? conta Vladimir Filgueiras, presidente da Associação do Vale da Curicica. ? Vamos ter que andar uns cem metros no meio dos carros, sem ter para onde fugir. Podem acontecer mil coisas: acidentes, assaltos.

Na maior parte das estações, o acesso se dará por meio de passarelas em rampa, que saem a cerca de cem metros do embarque. De acordo com técnicos da SMO, era impossível instalar as rampas em locais mais próximos das estações. Os acessos em geral se dão por vias com grande fluxo de pessoas.

Filgueiras avalia também que a cobrança de pedágio será um impeditivo para muitos moradores:

? Acho que muita gente continuará a pegar a Estrada do Catonho, por não ter condição de pagar o pedágio. Eu devo usar o Transolímpico de vez em quando, mas todo dia ficaria caro para mim.

No total, serão dois pedágios, um na altura de Sulacap e outro no Recreio. O primeiro cobrará pagamento dos veículos que seguem em direção à Avenida Brasil, e o segundo, dos que estão indo para a Barra. A ViaRio, concessionária responsável pela operação do corredor, vem cadastrando os moradores de residências em um raio de até dois quilômetros do segundo ponto de pedágio. Eles serão isentados desta cobrança, por meio de um cartão concedido ao proprietário do veículo cadastrado.

Para a moradora de Curicica Teresinha Santiago, a preocupação maior é o grande número de viadutos no traçado do Transolímpico. Segundo a SMO, são nada menos que 41 novas travessias, entre viadutos, pontes e elevados:

? Já estamos vendo usuários de crack debaixo deles.

Há ainda o temor de que, com o corredor, diminua o número de ônibus circulando por Jacarepaguá, problema que os moradores identificaram com o início da operação do Transcarioca e o posterior programa de racionalização de linhas da prefeitura. Dúvidas sobre possíveis novas rotas de ônibus deverão demorar a ser sanadas. A menos de dois meses do início da operação do novo sistema de BRT, a Secretaria municipal de Transportes comunica que as informações a respeito das alterações ainda estão sendo estudadas.

Moradora do condomínio Minha Praia, na Avenida Salvador Allende, Raquel Martins normalmente sai de carro, mas, com o início da operação do Transolímpico, diz que pretende usar o BRT:

? Vai depender da qualidade do serviço, mas quero usar, sim. Vai diminuir em muito o trajeto.

Assim como outros moradores ouvidos pelo caderno Jacarepaguá, Raquel não sabia que poderia circular pelo corredor expresso utilizando carro particular:

? Não sabia, não. Tem certeza? Se for isso mesmo, acho ótimo.

Há a expectativa ainda de que o início da operação do BRT Transolímpico desafogue a outra linha de BRT que percorre Jacarepaguá.

? Talvez o novo corredor diminua um pouco a dependência do Transcarioca, que já está sobrecarregado ? avalia o presidente da Associação de Moradores e Amigos da Freguesia, Jorge da Costa Pinto. ? Diz a prefeitura que isso vai acontecer, porque o Transolímpico se liga com o Transoeste.

Márcio Valente, titular da Subprefeitura da Barra e Jacarepaguá, diz que voltará a pedir reunião com o secretário municipal de Transportes, Rafael Picciani, se houver redução de linhas com prejuízo para os moradores.

? Temos nos sentado para conversar com o secretário constantemente. Recentemente, levamos propostas de moradores tanto da Freguesia como da Praça Seca, e conseguimos a volta de duas linhas, a 636 (Ipase-Praça Saens Pena) e a 353 (Praça Seca-Rodoviária Novo Rio). Mas temos que levar em conta as questões técnicas da CET-Rio também.

O subprefeito informa ainda que tem sido feito um trabalho constante por parte da Secretaria municipal de Ordem Pública para coibir ocupações irregulares no traçado do Transolímpico.

O problema vem sendo observado há pelo menos dois anos. A principal ocupação irregular se encontra próximo às estradas Boiúna e Curumau, na Taquara, nas bordas do Maciço da Pedra Branca. Em março, uma equipe do GLOBO esteve no local e constatou a existência de 20 casas.