Cotidiano

Tom Kamber, ativista: ?Há uma sensação de que ignoramos o envelhecimento?

201610071700414271.jpg?Tenho 49 anos, sou fundador e diretor- executivo da OATS e adoro trabalhar com idosos. Sempre fui um ativista. Quando era estudante, e meus colegas trabalhavam no McDonalds, eu arrecadava dinheiro para causas ambientais e levava pessoas a Washington para protestar contra a guerra de El Salvador. Foi antes de ver o que seria uma guerra de verdade.?

Conte algo que não sei.

Como sociedade, temos medo de envelhecer. Temos estereótipos negativos sobre isso, e há tanto medo de envelhecer que transformamos isso numa espécie de muro, em que pessoas não querem confrontar os próprios medos, não querem conviver com quem está onde elas temem chegar. Há uma sensação de que nós ignoramos o envelhecimento, e que não ficamos próximos de idosos porque eles nos lembram daquilo de que queremos nos manter distantes.

Quais são os estereótipos colocados nos idosos?

Pensam que eles são muito doentes, muito enfermos, muito dependentes, o que é um exagero. Não é que nenhum deles seja assim, mas, quando se pensa em ?idoso?, se pensa em decrépito, gasto, incapaz ? física e mentalmente. Nos EUA, só 3% dos idosos vivem em asilos. Então, mais de 90% deles têm algum grau de independência, e a grande maioria que entrevistamos em NY adoram viver na cidade, porque podem sair, ir a shows, shoppings, falar com amigos. Há também uma percepção errada sobre a imagem corporal. Pensam que idoso significa feio ? o que também é uma construção social.

Eles sofrem preconceito no mercado de trabalho?

Sim. Na minha ONG trabalhamos muito com pessoas que procuram empregos, e as histórias são extremamente comoventes. Eles mandavam currículos, depois recebiam ligações em que diziam ?você não é o tipo de pessoa que estamos procurando?. Tiramos a idade do currículo, e eles começaram a receber mais retornos. Só que, na entrevista, a primeira coisa que perguntavam era a idade. O fato é que as gerações têm características diferentes. Os mais velhos poderiam ajudar a neutralizar alguns traços ruins dos jovens. Os ?millennials? são muito ativos e têm ótimas habilidades técnicas, mas também são um pouco arrogantes e passam tempo demais no Facebook. Então, é útil ter alguém de 70 anos que chega às 08h30m para um trabalho que começa às 9h, que sabe ler e escrever bem, e que pode participar de um encontro sem olhar para o telefone.

Quais são os problemas na tecnologia que os idosos podem ajudar a corrigir?

Se um produto tiver o design ruim, um jovem vai tentar aprender, apertar todos os botões etc. Uma pessoa de 70 anos dirá: ?Eu não faço ideia de como usar isso?. E deixará o produto de lado. Todos querem um design ?elegante?. A mágica do iPod é que você pode entregar para qualquer pessoa e rapidamente ela vai aprender a usar. Idosos são um bom público para se testar um bom design.

A internet é um veículo bom para idosos conhecerem pessoas?

Com certeza. Idosos precisam de contato pessoal, e a internet não pode substituir isso, mas, quando envelhecemos, nossa rede de amigos naturalmente diminui. Os idosos vão ficando cada vez mais isolados. Então, para ter engajamento social, é preciso trabalhar isso. A tecnologia pode ser uma grande aliada. Segundo uma pesquisa, jovens que passam muito tempo na internet ficam mais em casa, mas os idosos conectados saem mais. Se você pensar no idoso isolado típico, parte do isolamento é por falta de conhecimento do que está acontecendo ao redor dele.

Você tem 49 anos. Já sofreu alguma discriminação?

Um pouco, mas não da forma que idosos de verdade se sentem. Recebo mais reações estranhas por ser amigo de alguns idosos. Nada sério.