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Técnico dita o ritmo na seleção de basquete em cadeira de rodas

Paralimpíada IMPRESSO 12/09Quem já foi à alguma partida da seleção brasileira masculina de basquete em cadeira de rodas nesta Paralimpíada certamente já notou a presença dele. Não só pela estatura de 1,96, mas pelo jeito agitado e vibrante à beira de quadra, bem ao estilo do técnico de vôlei Bernardinho. Aos 33 anos, Tiago Frank é o treinador que tentará levar o Brasil à primeira medalha de sua história na modalidade em Jogos Paralímpicos.

Na terceira colocação do Grupo B da competição, em que quatro equipes se classificam, a equipe precisa de uma vitória contra a Alemanha, nesta segunda-feira, às 21h45m, na Arena Olímpica do Rio, no Parque Olímpico da Barra, para se garantir nas quartas de final da competição. Neste domingo, a seleção brasileira venceu o Irã, por 73 a 50.

Durante o triunfo diante dos iranianos, Frank mostrou bem o seu estilo. No primeiro quarto, em que a seleção brasileira começou perdendo, o treinador não parava de andar de um lado para o outro. Sempre em pé, gesticulava e pedia para o banco de reservas ajudar nos gritos de “Defesa! Defesa!” para o time dentro de quadra ouvir. Deu certo. O Brasil passou a dominar as ações e venceu sem maiores dificuldades.

– Acredito que cada jogo é uma realidade diferente. Contra os Estados Unidos, na estreia (vitória americana por 75 a 38), falaram que eu fiquei muito quieto. Porque o momento necessitava isso. Costumo dizer que quando não tem nada para falar, fique quieto. Quando tem que falar, a gente fala. Gosto muito de ser enérgico, de participar da equipe, me envolvendo no jogo. Acho que o time sente a presença do técnico. É um laço de confiança – avalia o Frank.

O temperamento pode ser de Bernardinho, mas, curiosamente, Frank é considerado sósia do levantador Bruninho, o filho do treinador multicampeão de vôlei.

– Me chamam muito de Bruninho. A galera compara. Já fizeram até montagem com foto minha e dele, em competição, com medalha. Levo numa boa. E fico feliz, porque o Bruninho é uma pessoa extraordinária no meio esportivo. Para mim é uma honra ser comparado a ele – conta o treinador.

NOS ACORDES DO ROCK

Muito do ritmo de Tiago Frank à beira da quadra vem de uma outra paixão: a música. O técnico, formado em educação física, é também baixista da banda de rock experimental Velho Hippie.

– A música tem muito a ver com o basquetebol. A sincronia dos elementos, a boa energia, o espírito de unidade. Uma coisa está mais próxima à outra que se imagina. O baixista tocando descompassado com o guitarrista e o baterista, não dá certo. Mesma coisa as cinco peças que estão em quadra (no basquete) – compara.

Conteúdo de uma matéria só: quadro de medalhas

Natural de Caxias do Sul, Frank tem também como referência outro técnico de seleção brasileira, no caso, a de futebol. Tite é seu conterrâneo da cidade do interior gaúcho. Os dois tiveram contato recentemente, justamente por conta das Olimpíadas.

– Fui um dos condutores da tocha olímpica em Caxias do Sul. E o Tite, também. Aí nos apresentaram e disseram que eu era técnico da seleção de basquete de cadeira de rodas. O Tite me olhou bem nos olhos e disse: “Então somos colegas”. É um cara aberto, que passa muita humildade. Me inspiro nessas boas referências, como ele e o Bernardinho – relata Frank.

Apelidado de “Farol” na adolescência, por conta da estatura, o hoje treinador pensava em ser um jogador de basquete na época. Mas acabou desistindo da ideia para se tornar um profissional de educação física, profissão do pai, José Carlos, que faleceu quando o filho se preparava para iniciar o curso superior.

– A influência do meu pai me levou à educação física. A princípio minha intenção era o futebol, pois ele trabalhou anos com futebol e futsal. Acabei conhecendo o basquete ainda na adolescência, em função da minha altura. Mas não era um grande atleta. Mesmo assim, gostava muito do jogo de basquete, de como ele se desenvolvia, da dinâmica. Então resolvi me dedicar ao esporte. Até ter surgido na minha vida o basquete em cadeira de rodas, onde ingressei em 2008, em uma espécie de ONG de Caxias do Sul chamada Cidef (Centro Integrado de Pessoas com Deficiência).

De lá para a seleção brasileira foi um pulo. Agora, Frank, além da medalha, sonha em ver a modalidade crescendo no Brasil após a Paralimpíada.

– É uma modalidade tradicional do Brasil, com muitas equipes. Acontece que poucas têm um bom respaldo financeiro para manter uma estrutura do ponto de vista profissional. Precisamos de mais apoio, principalmente da iniciativa privada. É um esporte apaixonante, que não deve ser visto de maneira assistencial, mas profissional, pelo viés competitivo – finaliza o técnico.

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