Cotidiano

Shingo Yamagami, advogado: 'Toda economia, em algum momento, dá uma parada'

“Sou graduado em Direito pela Universidade de Tóquio, tenho 55 anos e já atuei na Missão Permanente da ONU, em Genebra. Sou diretor do Instituto de Relações Internacionais do Japão. Um dos fatores que me levaram a entrar nessa área era a vontade de ajudar o Japão a se comunicar com outros países.”

Conte algo que não sei.

Primeiro, muitas pessoas têm a falsa impressão de que o Japão não tem mais um crescimento econômico tão forte como antes. Isso é mentira. O Japão alcançou uma maturidade na economia. A qualidade de vida é de uma economia muito madura e de preços não tão absurdos como se falava. Depois, o Japão é politicamente muito estável, mas nem sempre foi assim. Há alguns anos, tivemos seis primeiros-ministros em seis anos. Agora temos Shinzo Abe e vivemos uma estabilidade política. É um momento muito propício e correto de restabelecer laços com o Brasil.

No encerramento da Olimpíada surpreendeu a aparição do primeiro-ministro como Mario Bros…

As pessoas têm uma imagem errada de que somos muito certinhos, muito quadrados. Gostamos de rir e de nos divertir, como os brasileiros. Tenho certeza que quem chegou para fazer esse convite ao nosso primeiro-ministro ouviu dele: “Isso é uma ótima ideia. É isso mesmo.” Brasileiros e japoneses têm muito em comum sobre gostar de rir e aproveitar a vida, apesar de o brasileiro ser mais expansivo e os japoneses, mais introspectivos.

Para Tóquio, qual será a importância de sediar os Jogos?

Diferentemente do Rio, em que os efeitos da crise foram adiados com os Jogos, não temos crises econômica e política. Mas, igualmente, há a questão de levantar o espírito dos japoneses. De tempos em tempos, é importante para o país ter uma renovação. Um jogar para o alto. É importante lembrar que todas as economias do mundo têm altos e baixos. Isso é normal. Tenho total confiança que o Brasil vai retomar o ciclo de crescimento.

Economistas comparam a crise no Brasil à do Japão, nos anos 1990. Também corremos o risco de ficar estabilizados num patamar baixo por muitos anos?

Não concordo com essa avaliação. O Brasil tem muito potencial a ser desenvolvido. Na indústria, nos serviços. É um país com população muito jovem. O que há de semelhante em nossas economias é que, assim como muitos países do mundo subestimaram o Japão, dizendo que já estava morto e velho, e demos a volta por cima, muita gente subestima o Brasil. E, quando o país der essa guinada, vai surpreender.

Em 30 anos, também teremos uma população mais idosa. O que podemos aprender com a experiência japonesa?

Não podemos ser pessimistas com relação à população idosa. Os idosos, no Japão, são muito ativos, saudáveis e produtivos. Os homens vivem, em média, 80 anos e as mulheres, 87. Muitos chegam aos 90 anos bem.

Como foi a adaptação do mercado de trabalho a essa mão de obra mais velha?

Tivemos dificuldades de convencer as empresas sobre a produtividade dos idosos. A tendência é acreditar que jovens são mais fáceis de serem treinados e moldados. Mas hoje, com a tecnologia, há treinamentos diferentes, e a experiência das pessoas mais velhas é incomparável.

Recentemente, um dos editores da ?The Economist? escreveu que a economia chinesa deve ter uma queda brusca em 2018. Concorda?

Não é verdadeiro que a economia chinesa está desacelerando. É impossível a China só crescer, crescer, crescer. Toda economia, em algum momento, dá uma parada. Já era esperada. O importante é que todos entendam que a Ásia não é só a China. Não dá para colocar todos os ovos numa mesma cesta, no caso, a chinesa. Esse é o aprendizado.