Esportes

Seletiva 'surreal' decide última vaga da luta olímpica do Brasil na Rio-2016

unnamed (9).jpg

Seria exagero dizer que os personagens da seletiva de luta olímpica, que
acontece nesta sexta-feira, às 14h, não falam a mesma língua. O carioca Antoine
Jaoude garante ter um relacionamento cordial com Eduard Soghomonyan, armênio que
vive no Brasil há quatro anos, fala português com fluência e concluiu seu
processo de naturalização há um mês. Jaoude, porém, está frustrado por ter de
participar de uma seletiva para definir o representante brasileiro na categoria
até 130 kg da luta greco-romana na Olimpíada do Rio.

A tristeza não é causada pela necessidade de enfrentar um colega de seleção ?
nas suas palavras, ?um lutador tem que estar sempre preparado para a porrada?.
Jaoude sente-se injustiçado pela Confederação Brasileira de Lutas
Associadas (CBLA). Foi ele o responsável por conquistar a vaga olímpica, em uma seletiva que não teve a presença de Soghomonyan. Por isso, não entende por que precisa confirmar o feito em uma segunda seletiva, agora interna.

? Claro que incomoda, é uma situação ímpar. Dizem que eu dei a minha palavra
(de que disputaria uma seletiva), mas a verdade é que não tive opção. Não tem mais
seletivas acontecendo em lugar nenhum do mundo, eu e Eduard podemos nos machucar
em uma luta interna… Meio surreal, né? ? lamenta Jaoude, de 39 anos, e com
participação em Atenas-2004 no currículo.

unnamed (10).jpg

CONVOCADO ÀS PRESSAS

Soghomonyan era o titular do Brasil na greco-romana, mas
ficou fora de última hora da seletiva pan-americana em março deste ano. Jaoude,
que fora derrotado na véspera no estilo livre, em que é permitido o uso das
pernas, foi chamado às pressas para ocupar a vaga na greco-romana, em que apenas
braços e tronco podem ser usados para imobilizar o adversário com as costas no tapete. Contra os prognósticos, venceu dois combates e classificou o Brasil na
categoria até 130 kg da greco-romana.

A vaga, porém, pertence ao país, não ao
atleta. A CBLA julgou que seria injusto deixar Soghomonyan de fora, e deixou
claro que Jaoude precisaria lutar uma seletiva interna para confirmar sua ida
aos Jogos, caso a naturalização do armênio ficasse pronta a tempo da Olimpíada.
A outra opção era conseguir um convite para Jaoude lutar no estilo livre, até
125 kg, mas a União Mundial de Wrestling (UWW) não concordou. Assim, restou a
seletiva.

Um problema de saúde é a justificativa oficial para Soghomonyan, de 26 anos,
não ter disputado a seletiva das Américas, em março ? o lutador teria sido
diagnosticado com zika. Há dúvidas, no entanto, se ele poderia participar de um
classificatório olímpico tendo apenas o passaporte esportivo, documento que
recebeu em 2015 para competir pelo Brasil enquanto a naturalização não saía. O
documento não é válido para Olimpíadas e qualificatórios olímpicos.

MAIOR EQUIPE BRASILEIRA

A CBLA
entende que Soghomonyan estava apto, já que havia participado inclusive do
Mundial de 2015, que também distribui vaga nos Jogos, embora não seja exclusivamente um qualificatório olímpico. Jaoude pensa diferente:

? Acho que eu fui usado para garantir mais uma vaga ao país ? desabafa o
lutador. ? O Eduard não tinha concluído a naturalização quando houve a seletiva
pan-americana. Algumas pessoas acham que eu estou zicando ele, mas não é isso.
Nunca tive problema com ele por ser naturalizado. É um bom garoto, já passou por
algumas situações também, foi visto com preconceito. Até aconselhei que ele
ficasse atento. Só não imaginei que eu acabaria nessa situação.

A seletiva será disputada em uma melhor de três lutas, na tarde desta
sexta-feira, na sede da CBLA na Tijuca, Zona Norte do Rio. O evento não será
aberto ao público. Independentemente de quem vencer, esta será a maior delegação
que o Brasil enviará aos Jogos Olímpicos, com cinco representantes. No estilo
livre feminino, Joice Silva, Lais Nunes, Gilda de Oliveira e Aline Silva conseguiram vaga nos Jogos.