Esportes

Rodolpho Riskalla, do hospital à Paralimpíada

?Eu vou poder montar a cavalo de novo?? Esta foi a primeira pergunta feita pelo cavaleiro Rodolpho Riskalla, há menos de um ano, antes de passar por uma série de amputações em decorrência de uma meningite bacteriana. A resposta foi sim, mas ninguém, além dele, imaginava que seria em alto nível, em uma Paralimpíada, em casa. Hoje, ele será o primeiro a entrar na pista na final do adestramento na categoria grau III (atletas capazes de caminhar sem suporte, com moderada debilitação unilateral), a partir das 14h, em Deodoro.

A resposta afirmativa dos médicos de um hospital da França, onde vive há alguns anos e foi transferido logo depois do diagnóstico no Brasil, foi o suficiente para ele colocar o projeto paralímpico em prática em janeiro deste ano, apenas três meses depois de amputar parte das duas pernas, a mão direita e os dedos da esquerda.

? Ali, no hospital, decidi que queria participar da Paralimpíada. Eles não acreditaram; só minha mãe e minha irmã, que me conhecem ? contou o cavaleiro, que voltou a montar no dia 2 de janeiro, sem os médicos saberem, num fim de semana ?de folga? do hospital.

Conteúdo de uma matéria só: quadro de medalhas

Riskalla é daquelas pessoas que, no primeiro minuto de conversa, percebe-se que é adepto da filosofia do copo sempre meio cheio. Na véspera da sua estreia nos Jogos, por exemplo, o cavalo Warenne não passou na primeira inspeção e teve de ser reavaliado horas antes de o cavaleiro entrar na competição, no domingo.

A tensão existiu, mas não tirou o sono de quem, até janeiro deste ano, estava internado em um hospital e bem longe do maior evento esportivo.

? Estava tão cansado que apaguei e dormi. Tivemos de acordar mais cedo do que era o previsto para ver a inspeção. Mas eu tinha certeza de que ele estava bem, tinha sido apenas um cansaço por causa da viagem e do calor forte ? disse Riskalla, que não foi tão bem no primeiro dia, terminando em 11º lugar, e tenta se recuperar hoje.

Certamente, este foi o menor dos problemas vividos pelo cavaleiro neste último ano, que chegou a tentar a classificação olímpica nos ciclos de 2012 e 2016. Porém, por questões financeiras, não pôde se dedicar exclusivamente ao hipismo e nunca esteve realmente perto de conseguir uma vaga. Ela veio por vias extremamente tortuosas, e o paulista de 31 anos olha como se fosse o destino agindo.

? Quem sabe não era para isso acontecer, para eu estar aqui numa Paralimpíada? ? filosofa ele, que até disputou algumas provas nos dois últimos ciclos. ? O hipismo é muito caro, não consegui fazer todas as classificatórias.

Elétrico, de fala ligeira, ele revela em poucos minutos o drama particular ? Riskalla contraiu a doença logo após o falecimento do pai, em julho do ano passado ? e comum a grande parte dos atletas brasileiros.

? Assim que criei o projeto de participar da Paralimpíada, comecei a procurar informações. Voltei a montar já com as próteses, e percebi que dava. Mas não tinha cavalo, e todo mundo que eu procurava me olhava estranho, do tipo ?Ah, tá, você quer competir agora? ? lembra.

O cavaleiro, no entanto, contou com uma grande rede de apoio para colocar o projeto em prática. Uma grande amiga, numa conversa, ofereceu o cavalo dela, com o qual ele compete hoje. A confederação do esporte e o comitê paralímpico o ajudaram com a parte burocrática. Ele ainda conseguiu alguns patrocínios, como do seu empregador ? desde 2014, ele trabalha na Christian Dior, em Paris, na principal loja da marca.

Assim, em abril, logo após ter recebido alta total dos médicos, Riskalla estava em cima de um cavalo participando das classificatórias para os Jogos. A adaptação foi tão rápida que ele sequer precisou participar da última eliminatória para ser confirmado na equipe brasileira.

? Há coisas diferentes. Precisei me adaptar ao jeito de pegar nas rédeas, mas com a prótese é muito perto do que era antes ? garante Riskalla, que, agora, já mira Tóquio-2020.

As medalhas do Brasil na Paralimpíada