Cotidiano

Relatório mostra que planeta perdeu 58% da vida selvagem em 40 anos

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RIO ? Um relatório divulgado nesta quarta-feira pela organização ambientalista World Wild Fund for Nature (WWF) mostra que as populações globais de peixes, aves, mamíferos, anfíbios e répteis diminuíram 58% entre 1970 e 2012. Os dados foram compilados do monitoramento de 14.152 populações, de 3.706 espécies de vertebrados, que mostram uma tendência persistente de queda. Se o ritmo de devastação se mantiver, a perda da vida selvagem pode alcançar 67% no período de 50 anos que se encerra em 2020.

? A vida selvagem está desaparecendo dentro da nossa geração a uma taxa sem precedentes ? disse Marco Lambertini, diretor geral da WWF Internacional. ? Isso não é apenas sobre as espécies maravilhosas que amamos; a biodiversidade forma a fundação de florestas, rios e oceanos saudáveis. Tirando essas espécies, esses ecossistemas entram em colapso, junto com o ar limpo, a água, comida e serviços climáticos que eles nos fornecem. Nós temos as ferramentas para consertar esse problema, e nós precisamos usá-las agora se quisermos preservar o planeta vivo para nossa própria sobrevivência e prosperidade.

O relatório ?Living Planet indica que a situação é mais preocupante para as espécies que vivem em habitat de água doce. Na média, as populações monitoradas desses sistemas diminuíram 81% no período. As espécies terrestres tiveram perdas de 38% e, as marinhas, declínio de 36%.

A principal ameaça é a degradação do habitat onde essas espécies vivem, seja pela remoção completa ou pela fragmentação ou redução da qualidade. Outros problemas enfrentados pela vida selvagem são o excesso de exploração, poluição, avanço de espécies invasoras e doenças e as mudanças climáticas. Todas estão diretamente relacionadas com atividades humanas.

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Segundo Pascal Canfin, diretor-geral da WWF França, até o momento as mudanças climáticas tiveram impacto ?relativamente marginal? na devastação das espécies animais, porque o aquecimento médio do planeta ainda está em 1 grau Celsius em relação aos períodos pré-industriais. Mas se os esforços acordados em Paris no ano passado forem em vão, o aquecimento global se tornará uma séria ameaça, não apenas para a vida selvagem como para a Humanidade.

A perda da vida selvagem é mais uma evidência de que o planeta está entrando numa nova era, com a Terra sendo moldada pelo avanço da Humanidade. Pesquisadores já estão chamando esse período de Antropoceno, e alertam para o risco de uma sexta extinção em massa, dessa vez provocada pelo homem. Segundo o relatório, a produção de alimentos para atender à demanda complexa de uma população humana crescente é a principal causa da destruição de habitats e exploração excessiva das espécies. Hoje, a agricultura ocupa cerca de um terço de todas as terras do planeta, e usa cerca de 70% da água consumida.

O modelo atual de consumo é ponto central no relatório. De acordo com os ambientalistas, o planeta consegue suportar por muito tempo o estilo de vida atual. De acordo com a ONG Global Footprint Network, a população humana global demanda recursos sustentáveis de 1,6 planeta, ou seja, estamos consumindo além do que a Terra pode produzir e recuperar. E a cada ano, o Dia de Sobrecarga da Terra chega mais cedo.

? Estamos consumindo nosso capital natural cada vez mais rápido ? disse Canfin.

A população mundial, hoje em 7,4 bilhões de pessoas, chegará a 9,7 bilhões em 2050, e neste ritmo precisará de um segundo planeta para se manter.

?As consequências da pressão humana sobre o meio ambiente se conhecem e se observam cada vez melhor, mas não há qualquer reação econômica racional?, lamenta a WWF, que pede um ?desenvolvimento econômico sustentável?.