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Reflexões de Abreu:?Loucura é matar alguém?

Aos 40 anos, o ex-camisa 13 do Botafogo voltou ao Rio para jogar no Bangu. De bem com a vida, está disposto a aproveitar a família e o futebol. Embora não goste de falar de aposentadoria, Loco revelou ao GLOBO como quer encerrar a carreira.

Você se concentrou na pré-temporada com os companheiros?

Claro, né?! Igual a todo mundo, como sempre fiz.

Como foi? É a pior parte para o jogador?

Foi igual a todas. Não, a pior é a concentração durante o ano. Esse negócio, em muitas partes do mundo, acabou. Até por estudos psicológicos, atrapalha mais do que favorece. Enquanto eu mantiver a paixão de jogar futebol, esta questão fica de lado. O importante é estar feliz de jogar. Todo mundo quer, mas nem todo mundo pode.

Você vai jogar no Bangu, passou recentemente por El Salvador, Equador, Paraguai. Incomoda o rótulo de Lado B do futebol?

No Rosario Central, eu jogava para 40 mil, e isso faz só um ano e meio. Mas minha vida sempre foi assim. Comecei num time cujo estádio é para 15 mil, depois joguei no San Lorenzo para 50 mil, no México para 20 mil. Minha vida não muda se o estádio é grande ou pequeno. O gramado é o mesmo. As medidas mudam, mas é igual para todo mundo. E eu tenho a possibilidade de jogar em Moça Bonita, onde o gramado é um tapete, que é o que me interessa.

Você chegou ao Botafogo em 2010 e saiu em 2012. Reparou mudanças no Rio?

Era outro momento da economia. Eu cheguei há pouco, ainda não deu para sentir, só dá para ouvir as pessoas falarem muito de insegurança. Na época, não se falava. O pessoal que mora aqui fala ?tá brabo?.

O país passou por mudanças desde que você saiu. Como acompanhou?

Você fica surpreso. Muitas pessoas envolvidas (em corrupção) da política, mas por outro lado é bom que peguem. O povo começa a acreditar quando veem que os caras são presos e vão para a cadeira. Dá para ver que não só no futebol, como na vida, a economia está sendo determinante na parte feia. Está todo mundo correndo atrás.

O Madureira venceu o Botafogo na estreia. Vencer os grandes é o objetivo do Bangu?

Não, é a regularidade. Só vencendo os grandes, não vamos conseguir o objetivo. A última vez que um time menor foi campeão foi em 1966, o Bangu. A empolgação do clube está boa, mas tem que ter os pés nos chão. Tem que sonhar de olhos abertos.

Em sua apresentação, disse que enquanto fizer gols o telefone vai tocar com propostas. Qual é a motivação para atender e dizer sim?

A paixão de jogar futebol. Foi o que aconteceu aqui. Acharam que eu era o cara para ajudar na reconstrução. Sei bem o que é o Carioca, fiz gols, gosto de morar no Rio e tem o negócio dos 113 anos (idade do Bangu).

Acompanha o Botafogo?

Sei tudo, porra. Sei mais do que você (risos).

Trouxe Montillo, perdeu jogadores importantes e tem um jogo decisivo na quarta-feira, na Libertadores…

O jogo é decisivo. Eles estão sabendo, não tem que botar mais pressão. É importante ganhar do Colo Colo (do Chile) e do Olimpia (do Paraguai) depois para entrar na fase de grupos, ganhar um respaldo econômico, uma tranquilidade do torcedor e do elenco. O primeiro jogo marca muito o que pode acontecer no segundo. Como torcedor do Botafogo, acho que estão preparados.

Vai na arquibancada como torcedor?

Não. Vou estar concentrado para o jogo contra o Vasco, na quinta, mas vou assistir na TV.

Você conhece o Jair Ventura. Foi um fenômeno…

Ele é parceiro, estou feliz, mas não é fenômeno. Ele está se preparando há oito anos. Trabalhou com muito treinador bom: Caio Júnior, Joel, Cuca. Deram a possibilidade de ser o líder e a arrancada (do time) foi muito boa. Ninguém acreditava.

Você foi treinado pelo Caio Júnior, uma das vítimas do voo da Chapecoense. Que reflexões te trouxe?

Desfrutar a vida. Você faz projeto de um, dois anos, junta dinheiro, pega um avião e acabou tudo. Tem que tratar de desfrutar a vida, família, amigos, o futebol. Vejo no vestiário, muitas vezes, o cara ficar muito puto. Comprou apartamento, fez investimento e pensa que daqui a dois anos ?vai dar ruim?. Esquece. Se preocupa, mas não para deixar de curtir vida. Amanhã, você não está aqui e vai dizer que errou.

Pelo visto, sua vinda para o Bangu é para aproveitar.

Desfrutar. Mas não é para sair para a balada, ficar bêbado. Tem muito cara que acha que desfrutar é isso, porque não sabe o que vai acontecer e faz um monte de m…. Tem que ser esperto, com responsabilidade.

Você já foi assim?

Graças a Deus, não. Se eu fosse assim, tinha parado há um tempo atrás.

O seu filho Diego, de 13 anos, está jogando no Defensor, já fez gols no Grêmio e Inter. E você tem planos de ser treinador. Prefere jogar ao lado dele ou treiná-lo?

O sonho é me aposentar com ele dentro do campo num jogo oficial. Dois atacantes na frente, pai e filho. Isso seria maravilhoso, mas também seria legal treiná-lo.

O Diego é alto também. Existe espaço para dois centroavantes num time?

Ele é centroavante, temos o mesmo jeito. Tem espaço para os dois. Tem que botar o time para tirar vantagem dos dois centroavantes.

Loco, o que é loucura?

Loucura? É matar alguém, pegar o carro bêbado, acabar com a vida dos demais, isso é loucura…