Cotidiano

Reflexão: A diferença entre feriado e paralisação

Segundo levantamento da Boa Vista SCPC, no 1º trimestre de 2017 o número de novas empresas cresceu 6,6% em relação ao mesmo período de 2016, o que não é muito difícil de saber o porquê. Ainda no olho do furacão, pessoas que perderam seus empregos ou parte de seus rendimentos estão fazendo aquilo que é uma das características mais verdadeiras dos brasileiros, o de "se virar" para sobreviver. Algumas profissões sofrem bem mais do que outras porque, mesmo bem capacitados, não há vagas nem mesmo dinheiro para remunerar essa gente que acaba migrando para o negócio próprio, outra atitude corajosa uma vez que, no Brasil, mais de cem mil estabelecimentos comerciais já fecharam nos últimos 12 meses, e a indústria farmacêutica amarga dez por cento de redução na venda de medicamentos. Ou seja: a crise é tanta que o brasileiro está economizando até em medicação.

Aí vem a paralisação, e mais uma vez minha formação em marketing aplaude os idealizadores desse evento, digo evento porque minha funcionária já vinha anunciando a semana toda que sexta-feira seria feriado, e, sendo feriado, eu não poderia buscá-la em sua casa. Marilda não sabe que bicho é esse “propinoduto”, Sérgio Moro é um político e não sabe citar uma pessoa presa na operação Lava-Jato, uma coisa que tem a ver com avião. Marilda também não sabe a diferença entre feriado e paralisação porque ela dá um dente para ficar em casa. Já tem carteira assinada e benefícios, então trabalhar para quê? E lá está Marilda feliz da vida porque os ônibus também “folgaram” e o marido dela pode ficar em casa e dormir até o meio-dia.

 

É por conta de gente como Marilda que o país para. É em função de pessoas com a mentalidade dela que essas paralisações ganham adesão, ainda mais quando a sexta-feira antecede uma segunda-feira de feriado nacional. Aí danou-se. Marilda, soube há pouco, foi para a praia na casa dos parentes porque, afinal, é “feriadão”, o que prova, mais uma vez, que é a classe média, o pequeno e o médio empresário que têm a coragem de tocar esse país cujas lideranças insistem em nos puxar para baixo. Com ou sem ônibus tenho pauta para entregar, compromissos com clientes e leitores cuja insatisfação tem o poder de me colocar no olho da rua. E como mãe e mantenedora do lar, prossigo trabalhando pois não é parando de produzir e ameaçando meus empregos que vou resolver minha insatisfação com a situação econômica do país, pelo contrário. Indústrias também têm prazo e na sexta-feira trabalharam em ritmo reduzido, ou até nulo, e muitas tiveram de buscar em casa seus empregados, mais um gasto empurrado para o bolso dos empreendedores, pessoas que tiveram a coragem de investir em um país de mentirinha, gente manipuladora que estimula o povo brasileiro a fazer “feriadão” em vez de sentar e resolver, como adultos educados, nossos conflitos Aí vem outro problema. Educação. Temos escolhido como governantes pessoas espertas e marqueteiras que trabalham imagem e reputação, não pessoas com formação na área pública e administrativa, profissionais com maior competência para tapar parte do buraco em que caímos com o passar do tempo.

Àqueles que embarcaram nesta aventura ou que estão em vista de abrir o próprio negócio, meus mais profundos e sinceros elogios por estarem lutando pelo sustento em vez de ficar na frente da televisão esperando o anúncio de mais um “feriadão”. Porém, meus guerreiros, na hora de selecionar quem terá a oportunidade do famigerado e tão difícil emprego, escolham pessoas como vocês, gente que produz e que honra o trabalho, caso contrário, estarão abrindo não um ponto comercial, mas um ponto de oportunistas, de pessoas que querem uma carteira assinada, apenas isso. A fila para o preenchimento das vagas será grande, e grande deverá ser o tempo para se debruçar no histórico desses futuros colaboradores. Marilda vai estar lá, mas já aviso: com ela não se ganha uma parceira, mas um parasita e como tal sugará os nobres esforços de que tem tenta, com seu trabalho, coragem e competência desatolar esse país.