Cotidiano

'Queremos evitar a criminalização', diz criador de projeto de lei do 'Dia do Funk'

RIO ? Na terça-feira, Ancelmo Gois antecipou em sua coluna que a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) vota, nesta quinta-feira, o projeto de lei de número 1981/2016, que torna o segundo domingo de cada mês de setembro o ?Dia do Funk?. O projeto é de autoria de André Lazaroni, líder do PMDB na Alerj e altera a Lei 5.465, de 6 de janeiro de 2010, que consolida a legislação relativa às datas comemorativas no estado.

Segundo o deputado, a ideia chegou a ele através do grupo Relíquias do Funk, formado por funkeiros “das antigas”, como MC Chocolate, MC Galo e Cidinho e Doca.

? Eles me procuraram porque o funk tem sido muito perseguido e colocado em uma situação de marginalidade. Quando eles tentam promover bailes em favelas com UPP, por exemplo, são tratados como algo negativo. E não é. Assim como o samba e a MPB, o funk é parte da cultura brasileira. Por isso queremos colocá-lo no calendário cultural do estado. Aprovar esse projeto é um marco fundamental para institucionalizar o movimento e evitar a criminalização ? explica Lazaroni.

O deputado estadual, um fã assumido do gênero (“cresci ouvindo Claudinho e Bochecha, Cidinho e Doca, Furacão 2000 e DJ Marlboro, desde meus sete anos”) se mostra confiante de que o projeto será aprovado sem grandes obstáculos. Após a votação desta quinta, ele passa ainda por uma segunda consultoria, e por fim, vai para a sanção do governador em exercício (Francisco Dornelles).

Apesar de defensor do funk e criador do projeto de lei, Lazaroni é crítico à faceta sexualizada do gênero, que domina os bailes nos últimos anos.

? Os jovens sempre encontram uma forma de chocar a sociedade e, além disso, o sexo vende. Mas isso acaba denegrindo o movimento. A nossa esperança com essa institucionalização do funk, da entrada oficial dele na agenda cultural do estado, é que os artistas possam ver como essa sexualização da música prejudica ? explica o político. ? A realidade das comunidades é a falta de saneamento básico, a violência, a ausência total do estado de direito. Em todos os níveis sociais há a sexualidade, e nem por isso ela tem que ganhar tanta ênfase. O que o movimento Relíquias do Funk quer passar é que esse preconceito contra o funk pode diminuir.

Leia, na íntegra, a justificativa do Projeto de Lei 1981/2016:

O funk é um estilo musical oriundo das favelas do estado do Rio de Janeiro, no Brasil. Apesar do nome, é diferente do funk originário dos Estados Unidos. Isso ocorreu pois, a partir dos anos 1970, começaram a ser realizados bailes da pesada, black, soul, shaft ou funk no Rio de Janeiro. Com o tempo, os DJs foram buscando outros ritmos de música negra, mas o nome original permaneceu. O funk carioca tem uma influência direta do miami bass e do freestyle. O termo “baile funk” é usado para se referir a festas em que se toca o funk carioca. Apesar do nome, o funk carioca surgiu e é tocado em todo o estado do Rio de Janeiro e não somente na cidade do Rio de Janeiro, como o gentílico “carioca” leva a crer.

O funk carioca, basicamente ligado ao público jovem, tornou-se um dos maiores fenômenos de massa do Brasil.