Esportes

Queniana vence maratona marcada por calor e sofrimento de atletas

A queniana Jemima Sumgong venceu neste domingo a maratona feminina com o tempo de 2h24m04s. Eunice Kirwa, do Bahrein, ficou com a prata, com 2h24m13s. O bronze foi para a campeã mundial Mare Dibaba, da Etiópia, com 2h24m30s.201608141005556408_RTS.jpg

A prova, a mais longa das competições de atletismo, teve a participação de mais de 150 atletas. O percurso de 42km teve início e fim no Sambódromo e passou também por pontos turísticos da cidade, como o Pão de Açúcar e Boulevard Olímpico. Maratona feminina

Que a maratona é uma prova de superação não é novidade. Os mais velhos certamente se lembram da suíça Gabrielle Andersen-Schiess cruzando a linha de chegada em Los Angeles-1984 já curvada, quase sem controle sobre seu corpo. A prova feminina da Olimpíada do Rio, disputada neste domingo sob forte sol, não teve uma cena tão icônica quanto aquela, mas o sofrimento estava latente no rosto das competidoras na chegada ao Sambódromo. Ao fim do percurso de 42 quilômetros, que passou por ruas do Centro, Aterro do Flamengo e ponto turísticos como o Museu do Amanhã, a queniana Jemima Sumgong venceu a maratona com o tempo de 2h24m04s. Eunice Kirwa, do Bahrein, ficou com a prata, com 2h24m13s. O bronze foi para a campeã mundial Mare Dibaba, da Etiópia, com 2h24m30s.

No setor reservado às atletas dentro do Sambódromo, depois da prova um saco de gelo tinha quase tanto valor quanto uma medalha. Algumas competidoras desmaiaram logo após cruzarem a linha de chegada e foram carregadas em macas ao posto médico. A organização não quis divulgar quantas atletas foram atendidas.

? Foi a coisa mais difícil que fiz na minha vida. Nunca corri tão devagar. O sol estava muito forte, muito difícil. No fim foi quase a marcha da morte ? disse Ariana Kilborna, da Letônia, que chegou na 106ª posição, com o tempo de 2h50m51s.

? O que me fez completar a prova foi o fato de ser uma atleta olímpica. Eu não ia desistir nem que tivesse que me arrastar até o final ? completou.

O cenário nos bastidores lembrava uma batalha. A francesa Christelle Daunay caminhava amparada por sua equipe, olhar perdido, quase catatônico, com os pés cheios de bolhas. A belga Manuela Soccol chorava. A sul-africana Christine Kalmer parecia desorientada quando foi abordada para uma entrevista.

? Converso, sim, mas preciso sentar primeiro. Foi muito duro e muito quente – disse a 96ª colocada, que ainda achou energia para mostrar bom humor: ? Acho que hoje era um dia perfeito para ir à praia.

Enquanto Mary Joy Tabal, das Filipinas, falava com a imprensa de seu país com lágrimas escorrendo pelos olhos e amparada por um voluntário (“Eu não podia desistir, era a Olimpíada. Tinha muita gente torcendo por mim em casa”), Adriana da Silva comemorava o fato de ter completado a prova com o apoio da torcida. Melhor brasileira na maratona, ela ficou com a 69ª posição, com o tempo de 2h43s22, 14 minutos acima de sua melhor marca.

? Estava muito calor, tinha muitas meninas passando mal. No quilômetro 35 eu achei que fosse desmaiar. Passei pálida. Aí diminuí o ritmo e consegui completar empurrada pela galera.

Se não sofreu tanto com o calor ? ao menos não demonstrou nem reclamou? a vencedora Jemima Sumgong tomou um susto. Já na reta final, no Sambódromo, um manifestante entrou na pista com um cartaz. Ele foi contido por um integrante da Força Nacional antes que pudesse se aproximar da maratonista.
? Fiquei um pouco assustada, com medo que ele viesse me agarrar. Lembrei do que aconteceu em Londres, aquela cena veio à minha mente ? disse a queniana, que em abril deste ano venceu a Maratona de Londres apesar de quase ser atacada por um manifestante.
? Mas durante o trajeto as pessoas vibraram muito, a torcida foi demais. Foi incrível vencer aqui – completou a medalhista de ouro.

A maratona olímpica do Rio também teve momentos emocionantes em família. As gêmeas norte-coreanas Hye-Song Kim e Hye-Gyong Kim cruzaram a linha de chegada lado a lado, empatadas na décima posição. Chorando, se abraçaram e foram muito aplaudidas pela torcida. As estonianas Leila, Liina e Lily Luik se tornaram as primeiras trigêmeas a disputar uma edição dos Jogos. Elas haviam prometido em entrevista ao GLOBO, em junho, cruzar a linha de chegada juntas. Liina, porém, não completou a prova. Leila e Lily chegaram com tempos diferentes, mas as três trocaram um longo e afetuoso abraço no Sambódromo, celebrando um feito histórico.