Cotidiano

Quando o Natal é um problema

Todos os anos as cenas se repetem. Natal é família, união, festa, alegria, mas pouco comentamos o grupo de pessoas que, sabemos, não é pequeno, para o qual o Natal é um verdadeiro tormento. Advogados, psicólogos, juízes e até professores têm muita história para contar. A situação é mais traumática para as crianças. O que era para representar Papai Noel e a chegada de presentes – e vamos combinar: para os pequenos, Natal é apenas isso – acaba se transformando numa guerra de pai, mãe e avós puxando-a para o Natal da sua família em detrimento da outra, e de preferência bem distante dela,  sem considerar que outras pessoas sofrem e querem bem aquele pequeno ser que independente para que família vá, não se livrará do sentimento de culpa.

E não precisamos nos deter apenas nas crianças, embora tenha o Natal um significado de magia para elas. Pessoas que perderam filhos, mãe ou o melhor amigo também podem passar por maus momentos com a proximidade do natal e ainda têm aquelas que precisam confraternizar com familiares que melhor seria estar  há quilômetros de distância, como a moça que roubou o marido da irmã, o irmão que não ajuda na manutenção da casa dos pais, o tio que fala mal de todo mundo e o cunhado bêbado – sempre tem um cunhado bêbado –, convidado inconveniente que fala demais, fofocas e feridas que levarão o ano inteiro para ser digeridas.

Pouco se fala no efeito estressante do natal. Igualmente ignorado é o mês de dezembro ter uma das mais elevadas taxas de suicídio do ano, revelando não apenas frustrações  familiares mas total ausência total de um lugar chamado lar. A namorada que foi embora, o emprego que se perdeu, o carro roubado, combinações das mais diversas ganham peso extra no final do ano por centenas de milhares de pessoas que não se sentem amadas nem queridas.

Nada de julgamentos, afinal é natal. Se estamos no tempo da solidariedade e da união, devemos ter um olhar de compreensão por aqueles que a vida transformou em barco furaco o que era para ser um porto seguro. Para estas pessoas, “Feliz Natal” é um discurso vazio. O “eu sei que a vida complica”, “família são os amigos que a gente encontra pelo caminho” ou um simples “eu te quero bem” talvez não garantam a alegria esperada na última semana de dezembro, mas, acredite, tem um efeito restaurador para quem até gostaria de ter uma família saudável para se perder em beijos, abraços e gratidões, muito melhor do que estar cercado por parentes que se transformaram em simples compartilhamentos genéticos dos quais precisamos nos proteger.

Vivian Weiand